Ontem houve eleições em Portugal e hoje acordo sem nada de novo, o ar que respiro dói-me, a alma dói-me, no fundo dói-me eu, tenho 62 anos e respirei fascismo, hoje ao acordar em nada me senti dissemelhante do ar que respirava nesse tempo vestido de preto, o tó zé lá disse ontem que era uma vitória histórica da esquerda mas como vitória história se o p.s. ganhou com cerca de três pontos percentuais de diferença? Como vitória histórica da esquerda se o actual p.s. em nada difere da direita revanchista que nos desgoverna? Não somos povo, somos rebanho castrado, inúteis de esperança e inúteis de mãos, embora não parta do principio que o poder se conquista nas urnas mas sim na rua de armas na mão, não posso deixar de me sentir frustrado por nesta pseudo democracia em que vivemos, o povo é quem mais ordena e ordenou que os vencedores fossem os mesmos que sem o menor pudor ao longo destes anos nos teem roubado e violado o futuro, somos um povo da nadas multiplicado ad aeternum até que nem infinito exista, somos de facto uma cambada de inúteis, de zeros de masoquistas, “batam-me que eu gosto e se não chegar podem mesmo sodomizar-me”.
Para quê escrever ou discutir futuro? Parece que estes quase dez milhões teem imensas saudades de passado que por enquanto lhes é servido em pequenas doses até que eles abram de novo as portas do passado e nos imponham botas cardadas e livros únicos, tinhas razão Bertrand “cada povo tem o governo que merece” e nós não merecemos mais que esta corja de biltres que nos desgoverna, devemos ter saudades de fado futebol e Fátima que cada vez nos é servido em doses mais generosas até que nos ponham na mesa a refeição completa. Sinto que a estrada que nos construíram termina abruptamente num abismo e nós, quais ratos encantados pela flauta de Hamelin, lá seguimos cantando e rindo alegremente até que o despenhar seja completo e total, se alguém me pedir um sinónimo deste povo que habita uma pequena parte desta “Jangada de Pedra” só me poderei responder, “sinónimo para portugueses? Merda”, é isso que este povo é, uma luzidia poia castanha com montes de varejeiras pairando. Tenho raiva, muita raiva, tenho vergonha, muita vergonha desta turba que só se sente bem a gritar Benfica Sporting ou Porto, sirvam-lhes ao Domingo pela TV boas doses de missa acompanhadas por um generoso prato de guitarradas, sirvam-lhes a fome e o desemprego numa bandeja, adorem estes ídolos de fato azul e gravata limpa, lambam-lhes os sapatos sempre impecavelmente luzidios, façam-lhes prosternações à passagem, batam-lhes palmas muitas palmas como ontem o fizeram, quem apoia canalhas é tão canalha quanto eles, façam-se finos e protestem nas redes sociais e cafés mas não passem disso porque o voto é secreto, sejam escravos de vós próprios já que nem gritar vos deixam e sempre é um bom treino para escravo “tout court”, sei que não é com vinagre que se apanham moscas mas não faço, nem sei, educar-vos para isso já tiveram quarenta anos da tal dita democracia representativa e se nada aprenderam e continuam a votar nos algozes de sempre só vos posso desejar um grande bardamerda e dizer que são merecedores da ignóbil vida que temos(o tempo verbal errado é propositado).
A realidade é a que é, e não o que nós queremos ou idealizamos. Não merece a pena bater no ceguinho, porque não é através da porrada que ele vai começar a ver. É preciso ser povo para o compreender, e não adianta falar de coisas que não se sentem. Ser provocador só interessa num momento certo e não em qualquer, ao acaso. Também estou infeliz com a situação, mas compreendo que um povo que não tenha aprendido a nadar não pode praticar natação. A miséria cívica começou há décadas, e os que a programaram são as que continuam a dirigir as aulas de manutenção, sejam políticos, sejam comentadores da área do poder.
ResponderEliminarDepois de ler 'Hoje bardamerda', de Fernando Monteiro, estou inteiramente de acordo com o bom comentário de Joaquim Tapadinhas.
ResponderEliminarDurante estes perdidos quarenta anos demos muitas pérolas a porcos. É o que temos. E a pocilga cheira cada mais pior.
"Uma cambada de inúteis de zero e masoquistas". A linguagem não será a mais apropriada para se referir a alguma forma de estar do povo português. O Fernando Monteiro terá as suas razões para estar revoltado. Mas posso lhe dizer que inútil me sinto sim porque estou desempregado apesar de nunca ter sido malandro e sei o valor que tenho. Quanto a masoquismo, como só tenho a quarta classe tirada à noite não sei o que essa palavra quer dizer mas não deve ser comigo também. Onde estava o Fernando Monteiro no 25 de Abril? A lutar no ultramar ou na clandestinidade a lutar pela liberdade e justiça social?
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