Santana-Maia Leonardo - Público de 24-5-2014
Miguel Torga escreveu o seguinte sobre a nossa maneira de ser: "É um fenómeno curioso: o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, bebe e diverte-se indignado e não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados."
Durante os últimos três anos, não houve português que não se indignasse com as consequências do memorando da troika assinado por PS, PSD e CDS. Veremos no que dá tanta indignação...
Mas, quando um povo tão indignado consegue reunir mais gente para festejar as vitórias do Benfica do que para lutar pela sua região, pelos seus direitos ou para se opor ao encerramento do tribunal ou do hospital da sua terra, as expectativas não podem ser muito elevadas. Até aposto que tanta indignação vai dar, de certeza absoluta, mais de 60% dos votos aos partidos responsáveis pelo memorando.
O grande Torga disse isso e muito mais, porque para além de ser um homem muito inteligente, também era muito sensível. Contudo, misturar em tom censurável o Benfica com o estado da nação, a única coisa que alegra uma grande parte dos portugueses, lá muito no fundo, só um sportinguista ou portista é capaz de o fazer. Deixai este povo, inculto e pobre, alegrar-se com alguma coisa, mesmo que nos pareça irracional. À falta de melhor, neste momento, redescobrem o Benfica.
ResponderEliminarÀs vezes, o povo é inculto e pobre. Outras vezes são os BMW, os AUDI, os MERCEDES na pista das minhas lamentações. E, outras ainda, é o 'nosso povo'.
ResponderEliminarAfinal, quantos povos somos?
A pobreza a que me refiro é muito mais alargada. É a pobreza de espírito. Conheço alguns de BMW e MERCEDES, bastante pobres. Um abraço lusitano ao José Amaral, não só porque muitas vezes estou de acordo com ele, mas, sobretudo, porque luta por um Portugal melhor.
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