quinta-feira, 29 de maio de 2014

O Desencanto da Europa!

 
Nos dias que correm com elevada aceleração existe uma grande interdependência entre os estados e entre estes e o sistema bancário. O que afecta um estado por “efeito dominó” prejudica todos os outros, dando-nos a sensação de que estamos todos a bordo de um mesmo navio, embora alguns viagem em primeira classe, enquanto a grande maioria vai na classe económica. Esse “efeito dominó” foi precisamente o que aconteceu com a chamada crise das dívidas soberanas. Como sabemos, começou na Grécia e alastrou-se pelos países do Sul da Europa, incluindo Portugal. Apesar dos resultados catastróficos da austeridade por terras gregas, a verdade é que a receita foi invariavelmente a mesma em todos os países assolados pela crise. Ainda assim, o euro sobreviveu, não obstante as contingências dos denominados programas de ajustamento, que foram mais programas de empobrecimento. No entanto, as democracias saíram fortemente enfraquecidas destas crises e parecem não conseguir sobrepor-se à austeridade imposta.
Perante as experiências a que forma submetidos os países em crise, urgia que se fizesse um debate sério em torno da Europa que queremos e desejamos para viver. Tentando responder a questões prementes, como, por exemplo: Como substituir a austeridade por crescimento e emprego? Avivando e implementando com essa discussão uma verdadeira consciência supranacional. Em vez disso, os partidos de maior relevo no panorama político português decidiram canalizar energias fazendo acusações mútuas na tentativa de sacudir a “água do capote”. Consequentemente, perante as falsas promessas e os discursos salvíficos, aquilo que se verifica na Europa e no nosso “cantinho” é uma indiferença generalizada, motivada pelo descrédito e pela desesperança nos partidos e ainda pela falta de informação. Já ninguém tem paciência para discursos ocos e vazios de conteúdo! Seria mais produtivo discutir ideias e não seguir uma “política do facto”, que nos mente quando diz que não há alternativas. Em democracia, dada a sua natureza pluralista, existem sempre caminhos diversos. Caso contrário passamos a chamar ao regime outro nome, facto que ninguém deseja. Aquilo que era desejável era que os nossos políticos se preocupassem em reconstruir a Europa, criando as bases para uma Europa mais justa, solidária e democrática, tal como a sonharam os seus “pais fundadores”. Se assim não for o navio pode afundar e dar razão a Oscar Wilde quando vaticinou: “Democracia quer simplesmente dizer o desencanto do povo, pelo povo, para o povo”.
Nuno Abreu

1 comentário:

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