Nos dias que correm com
elevada aceleração existe uma grande interdependência entre os estados e entre
estes e o sistema bancário. O que afecta um estado por “efeito dominó”
prejudica todos os outros, dando-nos a sensação de que estamos todos a bordo de
um mesmo navio, embora alguns viagem em primeira classe, enquanto a grande
maioria vai na classe económica. Esse “efeito dominó” foi precisamente o que
aconteceu com a chamada crise das dívidas soberanas. Como sabemos, começou na
Grécia e alastrou-se pelos países do Sul da Europa, incluindo Portugal. Apesar
dos resultados catastróficos da austeridade por terras gregas, a verdade é que
a receita foi invariavelmente a mesma em todos os países assolados pela crise. Ainda
assim, o euro sobreviveu, não obstante as contingências dos denominados
programas de ajustamento, que foram mais programas de empobrecimento. No
entanto, as democracias saíram fortemente enfraquecidas destas crises e parecem
não conseguir sobrepor-se à austeridade imposta.
Perante as experiências
a que forma submetidos os países em crise, urgia que se fizesse um debate sério
em torno da Europa que queremos e desejamos para viver. Tentando responder a
questões prementes, como, por exemplo: Como substituir a austeridade por
crescimento e emprego? Avivando e implementando com essa discussão uma
verdadeira consciência supranacional. Em vez disso, os partidos de maior relevo
no panorama político português decidiram canalizar energias fazendo acusações mútuas
na tentativa de sacudir a “água do capote”. Consequentemente, perante as falsas
promessas e os discursos salvíficos, aquilo que se verifica na Europa e no
nosso “cantinho” é uma indiferença generalizada, motivada pelo descrédito e
pela desesperança nos partidos e ainda pela falta de informação. Já ninguém tem
paciência para discursos ocos e vazios de conteúdo! Seria mais produtivo
discutir ideias e não seguir uma “política do facto”, que nos mente quando diz
que não há alternativas. Em democracia, dada a sua natureza pluralista, existem
sempre caminhos diversos. Caso contrário passamos a chamar ao regime outro
nome, facto que ninguém deseja. Aquilo que era desejável era que os nossos
políticos se preocupassem em reconstruir a Europa, criando as bases para uma
Europa mais justa, solidária e democrática, tal como a sonharam os seus “pais
fundadores”. Se assim não for o navio pode afundar e dar razão a Oscar Wilde
quando vaticinou: “Democracia quer simplesmente dizer o desencanto do povo,
pelo povo, para o povo”.
Nuno
Abreu
muito bom!
ResponderEliminarFiz o link para o Publico online.
Volte sempre, Nuno!