terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Em memória de Humberto Delgado

Há dias, deambulando por entre livros, quedei-me na ca(m)pa de um deles – Meu Pai, O General Sem Medo, em memórias de Iva Delgado, sua filha.
Nele li várias passagens da vida familiar de Humberto Delgado, e bem me recordo como o Estado Novo gozava com o título de 'general sem medo' ao mostrar tão temerário militar com uma pistola à cintura, como quem quer dizer, se é tão valente, porque usa arma andando à civil?
Também vi a fotografia, que tão bem recordo nos meus 14 anos de idade, da tão célebre recepção que Humberto Delgado teve no Porto em 14/5/1958, na Praça da Liberdade, onde não cabia um ovo. Era um autêntico mar de gente, pelo que, tal fotografia fazia parte das muitas fotografias proibidas pelo regime político de então.
Presenciei tal alvoroço popular pois já estava a viver no Porto desde os finais do ano de 1957, a trabalhar e a estudar à noite.
Este livro foi lançado aquando dos cinquenta anos do seu assassínio às mãos do sanguinário agente da Pide Casimiro Monteiro e a mando do seu superior hierárquico o pide Rosa Casaco, os quais, com outros pides, atraíram, emboscaram e mataram Humberto Delgado e sua secretária junto de Los Almerines, perto de Olivença, em 13/2/1965, pensando o general que ia reunir-se com opositores ao regime de Salazar.
Os corpos foram levados e ocultados perto de Villanueva del Fresno a 30 quilómetros a sul do local do crime.
Do livro retenho o seguinte pensamento: A lei do medo é como a Lua – mente quando diz a verdade, e diz a verdade quando mente.
Assim se comportava o regime de Salazar com o poder da Pide, e que a lei do medo executava.

José Amaral


2 comentários:

  1. O que fizeram ao General Humberto Delgado foi um crime horrível e isso é uma barbaridade que nunca terá explicação. Contudo, a verdade histórica devia ser tida mais em conta. Até se auto-proclamar candidato à presidência da República Portuguesa, ou seja até 1958, o general era um corifeu do regime e um homem de confiança. Tomou essa atitude, porque Salazar o preteriu como candidato da União Nacional, a favor de Américo Tomás. Não se conhece qualquer atitude de Delgado, a favor da democracia ou da liberdade de expressão, antes de 1958. A frase, "Obviamente, demito-o" que emitiu sobre o que faria a Salazar, tornou-se um cartão de apresentação e de adesão das massas populares à sua candidatura. Depois foi tudo o que está documentado e o que lhe fizeram envergonha qualquer governo.

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  2. De facto, também não se pode deixar passar em claro que HD foi um homem de confiança do regime até aos factos apontados pelo amigo Joaquim. E indo mais longe poder-se-á afirmar que também nutria grande admiração hitleriana. Todavia, por enfrentar o regime que anteriormente serviu com dedicação, teve a morte que se sabe.

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