terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

em O LIVRO EM BRANCO - páginas 84 e 85

De facto, sou

Sou um ‘puro-sangue’
Mal aproveitado,
Enquanto ‘pilecas’,
Bem alimárias,
Com alforges bem fundos,
Prenhes de compadrios,
Se sentam em belos cadeirões,
Conduzindo ‘limusines’,
Com o freio nos dentes,
Em risos imbecis
E ‘tiradas de ocasião’.

Sinto-me triste, por vezes,
Mas logo me alvoroço,
‘Galopando’ inebriado,
Por campos nem sempre
Verdejantes,
Sem castrações,
Mas, por vezes,
Com algumas ‘aflições’.

Flagelos

Só me falta um tronco
E praça apropriada,
Pois vergastado sou
Nesta existência adiada.

Só não sei qual a razão
Nem o porquê adiado
Deste povo pobretão
Que vive angustiado.

Todos se lamuriam
Em choros tão inconstantes,
Pois, se sofrem, deveriam
Ver seu logro, quando votantes.

Temos, pois, o que merecemos,
Ninguém devemos culpar,
Culpados, todos somos,
De tão baixo os elevar.

(nota – poemas urdidos até outubro de 1988)

José Amaral


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