segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

RELEMBRAR PARA NÃO MAIS ACONTECER: O menino da lista de Schindler

Tendo uma tendência fortemente humanística, sempre me interessei pelos sofrimentos impingidos aos prisioneiros de todos os naipes nos campos de confinamentos das forças alemãs durante a segunda guerra mundial, procurando conhecimentos através de contactos pessoais e pela leitura de farto material escrito sobre o assunto.
 Julgava-me, com isso, profundo conhecedor do chamado Holocausto, até que caiu em minhas mãos um  livro recentemente lançado com o título: “O menino da lista de Schindler”, onde pude verificar que os tristes e cruéis episódios ali registados, excederam, e muito,  tudo aquilo  que eu imaginava  ter lá acontecido.
O livro foi escrito pelo sobrevivente  Leon Leyson  (Leib Lejson), com ajuda de um escritor profissional e dos filhos. De origem judaica e nascendo em um pequeno vilarejo da Polónia, faleceu em 12/01/2013, infelizmente, por uma ironia do destino, não pôde ver o lançamento de seu livro. Este livro foi editado e traduzido para o português do Brasil   pela  Editora Rocco Ltda.
  Neste livro ele  relata com clareza de detalhes os dramáticos momentos vividos no seu dia a dia no campo de concentração de Płaszów (Cracóvia, Polônia), comandado pelo sanguinário e corrupto oficial da SS Amon Göth. Local este, muito próximo do famoso (de péssima lembrança),  campo de Auschwitz.
 O autor do livro, quando criança, foi personalizado  por aquele menino que aparece no filme biográfico: “A Lista de Schindler” ( Schindler's List). Sendo considerado pelos críticos especializados, uma das melhores películas no gênero produzida  em Hollywood.
O filme enfoca Oskar Schindler, um empresário alemão, pertencente ao partido nazista, que salvou a vida de mais de mil judeus durante o Holocausto, ao empregá-los em sua fábrica: façanha feita à custa do uso de sua fortuna pessoal, através de gordas propinas ( neste caso o uso de propinas tão em evidência hoje, foram utilizadas para o bem da humanidade) endereçadas  aos corruptos oficiais nazistas; estima-se, hoje, aproximadamente em sete mil, o numero de descendentes dos judeus salvos através da lista que levou o seu nome.
Um fato marcante é que o então menino Leyson, que, para trabalhar na fábrica precisava improvisar um caixote para alcançar a altura das máquinas. Ao cair na graça de Schindler conseguiu ter seu nome incluído  na lista (nº 289) que o salvou da morte certa.
Na idade adulta, nos Estados Unidos, sempre foi arredio em descrever sobre   os tristes momentos que viveu nos campos de prisioneiros nazistas, só o fazendo no fim da vida, ao escrever o livro recentemente lançado, afirmando que: ” o livro é um legado de esperança e um chamado para que todos nós nos recordemos daqueles que não tiveram a oportunidade de ser salvos”.
Outro fato marcante de sua personalidade foi o da gratidão, pois em toda sua vida procurou ajudar aquele que o salvou, tendo em vista que Schindler nunca conseguiu se reerguer em face de descriminação que sofria em seu país por ter ajudado judeus a sobreviver, sendo perseguido e taxado de traidor pelos compatriotas saudosistas do nazismo.
Conseguiu também, com outros sobreviventes, sensibilizar o governo de Israel a reconhecer  os  actos humanitários de Schindler, que, em decorrência, teve o  seu nome inscrito em árvores plantadas em sua homenagem na avenida “Dos Justos Entre As Nações”, no museu do holocausto Yad Vashem, na cidade de Jerusalém e ter a sua  destemida conduta solidária  perfeitamente enquadrada e reconhecida dentro do espírito do provérbio judaico que diz: “Quem salva  uma só vida salva a humanidade”.
Outro fato histórico que deve ser ressaltado, é que os judeus sobreviventes e seus descentes  liderados  por Leyson, conseguiram resgatar um antigo e manifesto desejo de Schindler  de ser sepultado em Israel com pleno direito ao ritual judaico, cujo ato exclusivo aos  judeus, constituiu  uma raríssima exceção, levando em consideração ter sido  ele Católico por formação e um activo e importante membro do partido nazista.
 Que os conhecimentos das atrocidades do passado e do presente sejam um convite à reflexão sobre a violência irracional, o racismo e a intolerância que ainda persistem nos dias actuais, onde, por ironia histórica, a nação judaica, forjada no sofrimento e na persistência deste fantástico e histórico povo, vem através do radicalismo e intolerância de seus dirigentes,  impondo ao indefeso e revoltado povo palestino, guardadas as devidas proporções, o mesmo perverso tratamento  por eles sofridos  por parte dos nazistas. A Faixa de Gaza é hoje, sem dúvida,  uma réplica ampliada e moderna dos malfadados Guetos judeus da segunda grande guerra.
AO ESCREVER ESTE ARTIGO PROCURANDO RELEMBRAR E DIFUNDIR ESTAS ATROCIDADES, ALÉM DE CONSTITUIR UMA ÍNFIMA  TENTATIVA DE NUNCA MAIS VÊ-LAS ACONTECEREM, É UMA MANEIRA  DE NÃO FICAR  INERTE PERANTE OS DRAMAS HISTÓRICOS  DA PERVERSIDADE HUMANA AO LONGO DOS SÉCULOS.

  Orivaldo                                                ori@uol.com.br
 

Artigo publicado no jornal Diário da Manhã de   Goiânia- Go , Brasil -  no   dia   16/02/2015,  no caderno   Opinião   Pública   pg. 7   -   Site do jornal: http://www.dm.com.br/jornal/#!/mini

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