Tendo uma
tendência fortemente humanística, sempre me interessei pelos sofrimentos
impingidos aos prisioneiros de todos os naipes nos campos de confinamentos
das forças alemãs durante a segunda guerra mundial, procurando
conhecimentos através de contactos pessoais e pela leitura de farto
material escrito sobre o assunto.
Julgava-me, com
isso, profundo conhecedor do chamado Holocausto, até que caiu em minhas mãos
um livro recentemente lançado com o título: “O menino da lista de
Schindler”, onde pude verificar que os tristes e
cruéis episódios ali registados, excederam, e muito, tudo aquilo
que eu imaginava ter lá acontecido.
O livro foi escrito
pelo sobrevivente Leon Leyson (Leib Lejson),
com ajuda de um escritor profissional e dos filhos. De origem judaica e
nascendo em um pequeno vilarejo da Polónia, faleceu em 12/01/2013, infelizmente,
por uma ironia do destino, não pôde ver o lançamento de seu livro. Este livro
foi editado e traduzido para o português do Brasil
pela Editora Rocco Ltda.
Neste
livro ele relata com clareza de detalhes os dramáticos momentos
vividos no seu dia a dia no campo de concentração de Płaszów (Cracóvia, Polônia),
comandado pelo sanguinário e corrupto oficial da SS Amon Göth. Local este, muito próximo do famoso (de
péssima lembrança), campo de Auschwitz.
O autor do
livro, quando criança, foi personalizado por aquele menino que aparece no
filme biográfico: “A Lista de Schindler” ( Schindler's List).
Sendo considerado pelos críticos especializados, uma das melhores películas no
gênero produzida em Hollywood.
O filme enfoca Oskar Schindler, um
empresário alemão, pertencente ao partido nazista, que salvou a vida de mais de
mil judeus durante o Holocausto, ao empregá-los em sua fábrica: façanha feita
à custa do uso de sua fortuna pessoal, através de gordas propinas ( neste caso
o uso de propinas tão em evidência hoje, foram utilizadas para o bem da
humanidade) endereçadas aos corruptos oficiais nazistas; estima-se, hoje,
aproximadamente em sete mil, o numero de descendentes dos judeus salvos através
da lista que levou o seu nome.
Um fato marcante é
que o então menino Leyson, que, para trabalhar na fábrica precisava
improvisar um caixote para alcançar a altura das máquinas. Ao cair na graça de
Schindler conseguiu ter seu nome incluído na lista (nº 289) que
o salvou da morte certa.
Na idade adulta, nos
Estados Unidos, sempre foi arredio em descrever sobre os tristes
momentos que viveu nos campos de prisioneiros nazistas, só o fazendo no fim da
vida, ao escrever o livro recentemente lançado, afirmando que: ” o livro é
um legado de esperança e um chamado para que todos nós nos recordemos daqueles
que não tiveram a oportunidade de ser salvos”.
Outro fato marcante
de sua personalidade foi o da gratidão, pois em toda sua vida procurou ajudar
aquele que o salvou, tendo em vista que Schindler nunca conseguiu se reerguer
em face de descriminação que sofria em seu país por ter ajudado judeus a
sobreviver, sendo perseguido e taxado de traidor pelos compatriotas saudosistas
do nazismo.
Conseguiu também, com
outros sobreviventes, sensibilizar o governo de Israel a reconhecer
os actos humanitários de Schindler, que, em decorrência, teve
o seu nome inscrito em árvores plantadas em sua homenagem na avenida “Dos
Justos Entre As Nações”, no museu do holocausto Yad Vashem, na cidade
de Jerusalém e ter a sua destemida conduta solidária perfeitamente
enquadrada e reconhecida dentro do espírito do provérbio judaico que diz:
“Quem salva uma só vida salva a humanidade”.
Outro fato histórico
que deve ser ressaltado, é que os judeus sobreviventes e
seus descentes liderados por Leyson,
conseguiram resgatar um antigo e manifesto desejo de Schindler de
ser sepultado em Israel com pleno direito ao ritual judaico, cujo ato exclusivo
aos judeus, constituiu uma
raríssima exceção, levando em consideração ter sido ele Católico por
formação e um activo e importante membro do partido nazista.
Que os
conhecimentos das atrocidades do passado e do presente sejam um convite à
reflexão sobre a violência irracional, o racismo e a intolerância que ainda
persistem nos dias actuais, onde, por ironia histórica, a nação judaica,
forjada no sofrimento e na persistência deste fantástico e histórico povo, vem
através do radicalismo e intolerância de seus dirigentes,
impondo ao indefeso e revoltado povo palestino, guardadas as devidas
proporções, o mesmo perverso tratamento por eles sofridos por parte
dos nazistas. A Faixa de Gaza é hoje, sem dúvida, uma réplica
ampliada e moderna dos malfadados Guetos judeus da segunda grande guerra.
AO ESCREVER ESTE
ARTIGO PROCURANDO RELEMBRAR E DIFUNDIR ESTAS ATROCIDADES, ALÉM DE CONSTITUIR
UMA ÍNFIMA TENTATIVA DE NUNCA MAIS VÊ-LAS ACONTECEREM, É UMA
MANEIRA DE NÃO FICAR INERTE PERANTE OS DRAMAS HISTÓRICOS DA
PERVERSIDADE HUMANA AO LONGO DOS SÉCULOS.
Orivaldo
ori@uol.com.br
Artigo publicado no jornal Diário da Manhã de Goiânia- Go , Brasil - no
dia 16/02/2015, no caderno
Opinião Pública pg. 7
- Site do jornal: http://www.dm.com.br/jornal/#!/mini
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