Na noite do dia 7 de Janeiro, encontrava-me
a fazer uma pesquiza “internética” através do meu “iphone”. Enquanto tentava “googlar”,
aparecia-me teimosamente em rodapé o seguinte anúncio:
“RECOMENDAMOS PARA SI – Vídeo
mostra o momento em que atiradores matam polícia.”
Eis o que, no entender de uma qualquer
entidade informática à qual sou totalmente alheio, me estava decisivamente recomendado:
o assassínio brutal a sangue-frio de um ser humano como se fosse um cão em fase
terminal caído na valeta.
Mas a recomendação não ficava por
aqui, dizia também:
- “Partilhe este vídeo com os seus
amigos”. Pois claro, então os amigos haviam lá de perder uma coisa destas!?
E ainda – muito importante e em bom
português (“ipsi verbis”)
:
- “Alertamos para o facto de as
imagens do vídeo podem ferir suscetibilidades.” Não!...,
Por isso é que está recomendado só
para amigos…
Para além do mais, estou tranquilo;
estou certo que a minha neta de 5 anos – que já domina estas
novas tecnologias melhor do que eu – se calhar ver o vídeo, vai pensar
tratar-se apenas de mais um “videogame” próprio para criancinhas da sua idade.
Dei comigo a pensar: louvado seja
Deus, os progressos que a humanidade fez! Ainda há tão pouco tempo, só para ver
um qualquer herege ser queimado vivo, a populaça não tinha outro remédio senão
ter de se deslocar, pelo seu próprio pé e vontade, ao local da execução…
Ouvi claramente os tiros e as
exclamações dos assassinos; para meu espanto, o que não ouvi foi um grito de
horror, de indignação, indícios de uma chamada de socorro a ser efetuada ou do
atirar de uma simples pedra na tentativa desesperada de confundir os
assassinos…
Deduzo, quiçá injustamente, estar
quem filmava mais concentrado na oportunidade de conseguir um filme único do
que tentar ajudar quem estava a ser massacrado…
Realmente, para além de ser um verdadeiro
“furo”, capaz de render muito bom dinheiro a quem percebe minimamente destas
coisas, o destemido realizador cometeu uma proeza de que se vai poder gabar nas
redes sociais para o resto dos dias da sua vida…
E mais! Decididamente, toda a
família do polícia assassinado lhe ficará eternamente grata pela oportunidade
de poderem rever, vezes sem conta, os derradeiros momentos do seu ente querido.
Sem surpresa, logo se fez ouvir a
voz dos principais líderes mundiais, os mesmos que pugnam em manter
escancaradas as portas do mundo dito “civilizado” a todo o tipo de barbárie, em
nome do politicamente correto: manifestavam-se chocados!!!...
Eu lamento, mas honestamente tenho
de confessar que não; a mim, a única coisa que ainda me choca, é o fato de já
nada parecer chocar as pessoas.
A terminar, só uma pergunta de mera
curiosidade pacóvia: o senhor Hollande não se deslocou ao local do crime de
“scooter”, pois não?!...
José Dinis Carmo
Gostei. Excelente texto.
ResponderEliminarAbraço