segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

em O LIVRO EM BRANCO - páginas 94 e 95

Raízes do meu sítio

Vivo cheio de incertezas
Em solilóquio profundo,
Como cândida manhã
Em dia de grande verão,
Não esperando a trovoada,
Que subitamente aparece
No quadro da minha infância,
Libertando fragrante odor
De terra lavada e fecunda.

Sinto-me, pois, limpo
Da mácula ancestral,
Arcando, agora,
Com a mágoa actual.


A Lua na Terra

A Lua no seu feitiço
Tem algo de encantar,
Mas por vezes o toutiço
Acaba com o sonhar.

A Lua já foi feitiço
Lugar de tanto amores,
Mas também já foi enguiço
E lugar de muitas dores.

O feitiço da Lua acabou
E os poetas abalaram,
O sonho dela voou
E nunca mais a cantaram.

O Homem pôs lá o pé,
A Lua perdeu o mito,
Agora não anda o Zé
Sonhando o infinito.

nota – poemas coligidos até outubro de 1988

José Amaral


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