*Cristiane
Lisita
O homem magnânimo é aquele cuja luz
pousa sobre a cidade sem ofuscá-la, empurra as sombras para além dos portões
enferrujados. Possui imenso ânimo de se dar por inteiro, tanto pensamento
quanto coração. Recusa-se a ser
mesquinho, tem coragem de enfrentar o perigo e pratica ações para fins nobres.
Sua antítese é a covardia. Em Ética a Nicomaco,
Aristóteles chamou a magnanimidade de “a
virtude suprema”.
O pensamento aristotélico absorve a
concepção de grandeza do espírito que ao se deparar com pelejas
sente prazer em atos de benevolência fazendo desdém da injustiça e da maldade, afastando-se da
vingança. Tal indivíduo é capaz de sacrificar a própria felicidade para a
realização de causas notáveis. Aristóteles em Ética a Eudemo afirma que “o homem magnânimo deseja
ocupar-se de poucas coisas e estas têm que ser verdadeiramente grandes aos seus
próprios olhos, e não porque os outros assim pensem”. Nestes termos, para essa alma
esplendorosa, não há ambição “em ser louvado nem ver os outros censurados”.
O magnânimo de Aristóteles pressupõe
a excelência moral. A pretensão dele
é prestar favores e não recebê-los, pois, se assim fosse, revelaria fraqueza, carência
de liberdade e de virilidade, conforme assevera o filósofo. Talvez o que C.S.
Lewis, em A Abolição do Homem (1943), tenha nomeado de “homens sem peito” por
acreditar que esses seriam a negação do que é mais sublime: o espírito altivo voltado
para o bem comum.
A crise que se perfaz no mundo
contemporâneo é sinal da extrapolação de valores. Também da dignidade olvidada
em um canto qualquer. Violência gera violência, corrupção mais corrupção. A
cordialidade, o amor ao próximo, a lealdade devem ser premissas para ressurgirmos
das cinzas do tumulto contraditório de nosso tempo. A força só é um bem, para
Aristóteles, quando demonstra a vitalidade da nobreza de caráter. No mais, é
apenas irracionalidade, animosidade.
Basta com o enaltecer de trajetórias
estelares.
Basta
com as retóricas assertivas ao progresso sem conseguir alcançar caminhos para abeirar-se
do homem magnânimo.
Basta
de desavenças inúteis que distorcem a realidade conformista e massificante, de ideias
descompromissadas para nortear uma melhor formação humana e a construção de uma
sociedade equitativa e justa.
Cantemos com o salmista: “tudo é vento que passa”.
*Cristiane
Lisita
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