quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Os caminhos do homem magnânimo


*Cristiane Lisita


          O homem magnânimo é aquele cuja luz pousa sobre a cidade sem ofuscá-la, empurra as sombras para além dos portões enferrujados. Possui imenso ânimo de se dar por inteiro, tanto pensamento quanto coração. Recusa-se a ser mesquinho, tem coragem de enfrentar o perigo e pratica ações para fins nobres. Sua antítese é a covardia. Em Ética a Nicomaco, Aristóteles chamou a magnanimidade de “a virtude suprema”.
           

              O pensamento aristotélico absorve a concepção de grandeza do espírito que ao se deparar com pelejas sente prazer em atos de benevolência fazendo desdém da injustiça e da maldade, afastando-se da vingança. Tal indivíduo é capaz de sacrificar a própria felicidade para a realização de causas notáveis. Aristóteles em Ética a Eudemo afirma que “o homem magnânimo deseja ocupar-se de poucas coisas e estas têm que ser verdadeiramente grandes aos seus próprios olhos, e não porque os outros assim pensem”. Nestes termos, para essa alma esplendorosa, não há ambição “em ser louvado nem ver os outros censurados”.
           

         O magnânimo de Aristóteles pressupõe a excelência moral. A pretensão dele é prestar favores e não recebê-los, pois, se assim fosse, revelaria fraqueza, carência de liberdade e de virilidade, conforme assevera o filósofo. Talvez o que C.S. Lewis, em A Abolição do Homem (1943), tenha nomeado de “homens sem peito” por acreditar que esses seriam a negação do que é mais sublime: o espírito altivo voltado para o bem comum.
             

             A crise que se perfaz no mundo contemporâneo é sinal da extrapolação de valores. Também da dignidade olvidada em um canto qualquer. Violência gera violência, corrupção mais corrupção. A cordialidade, o amor ao próximo, a lealdade devem ser premissas para ressurgirmos das cinzas do tumulto contraditório de nosso tempo. A força só é um bem, para Aristóteles, quando demonstra a vitalidade da nobreza de caráter. No mais, é apenas irracionalidade, animosidade.
            
             Basta com o enaltecer de trajetórias estelares.

  Basta com as retóricas assertivas ao progresso sem conseguir alcançar caminhos para abeirar-se do homem magnânimo.

  Basta de desavenças inúteis que distorcem a realidade conformista e massificante, de ideias descompromissadas para nortear uma melhor formação humana e a construção de uma sociedade equitativa e justa. 

  Cantemos com o salmista: “tudo é vento que passa”.


*Cristiane Lisita


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