segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Alguém me observa...

De há uns tempos para cá, cada vez que o meu carro arranca, uma aplicação no telemóvel acorda e tenta adivinhar para onde vou, calcula o caminho, estima o tempo da viagem e informa-me sobre as condições do trânsito.

Para isto ser possível, estarão a ser gravados algures os meus padrões de deslocação. Isto incomoda-me. Não me recordo de ter dado autorização expressa para isso em momento algum. Começou espontaneamente após uma atualização qualquer. Constatei posteriormente, tratar-se de uma aplicação do “sistema”, que nem sequer descarreguei especificamente. Após investigação, encontrei então registados no aparelho os locais identificados como frequentes, com todo o detalhe das datas e horas de entrada e saída.

Incomoda-me “ser seguido” e essa informação ser registada. Há sempre a opção de ignorar as sugestões, sempre feitas com o nobre intuito de “nos ajudar”, de “melhorar a nossa experiência”, só que esse ignorar tem os seus limites. Quando alguém sabe algo (muito) sobre nós, para lá do que a nossa consciência assume, tem uma capacidade de influência maior do que imaginamos.

A minha qualidade de arbítrio depende de uma certa isenção e pluralidade da informação que me chega. Ficará comprometida quando, sem consciência disso, algo me observa … e, parte mais grave, me tenta dirigir! Esta brutal e não autorizada recolha de informação sobre onde passamos, onde almoçamos, o que compramos, o que lemos, etc., é uma ferramenta de modulação da sociedade … não controlada.


Carlos J F Sampaio, Esposende

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