DA TERRA VEM TUDO QUE PRECISAMOS
Quase todos
os reis da 1ª dinastia impulsionaram o nosso desenvolvimento agrícola, porque
inteligentemente previam que o nosso melhor ouro residia nas espigas alouradas
das nossas searas. Portugal pôde então colher cereais em quantidade bastante
para os seus gastos e para fazer apreciável exportação.
Depois a
nossa agricultura decaíu. A ânsia de descobertas e conquistas roubou-lhe os
melhores braços; a pecuária, desfalcada, não fornecia os estrumes necessários
para refazer a fertilidade das terras cansadas; os afolhamentos deixaram de nos
merecer aquela importância que romanos e mouros sabiamente lhes ligaram; a
guarda dos campos era insuficiente e os frutos ficavam à disposição de vadios e
meliantes. Através dos séculos, parece que foram sempre os mesmos os males que
afligiram a nossa lavoura!
Porém, o que
avulta, quando atentamos na nossa História Agricola, é a simultaneidade do ouro
e das riquezas, vindos do exterior, e da fome e da miséria, geradas no
interior. Quantas mais conquistas, maior desordem; quanto mais ouro, maior miséria,
e o espectro da fome tomava tais proporções que os miseráveis corriam para
Lisboa aos bandos e caíam pelas valetas, famintos e agonizantes. Demonstrava-se
assim que nada poderia corrigir a fome e a miséria que resultariam fatalmente
do abandono dos campos.
A despeito de
tantas descobertas e conquistas, era à agricultura que tínhamos de ir buscar o
suprimento neceSsário para nos ressarcirmos dos efeitos depauperantes de tantas
aventuras. Portugal tinha sido e havia de continuar a ser uma vasta família agrária.
Não devem por isso desanimar os homens do campo. Cada vez com maior clamor, o
citadino há-de pedir socorro ao camponês. Mas é preciso robustecer a lavoura
instruindo, educando, unindo toda a família agrária.
Hoje a
agricultura não pode deixar de ser olhada como uma ciência muito complexa. Porém,
ao agricultor, que explora a sua propriedade, não é necessária uma tão vasta
soma de conhecimentos. Basta-lhe aprender um certo número de noções adquiridas
pela observação, investigação e estudo dos agrónomos e já confirmadas na prática
de outros agricultores.
NOTA – Este texto
foi respigado de um trabalho do médico e agricultor J.T.Montalvão Machado,
publicado pela Portucalense Editora em 1959.
Transcrito
por Amândio G. Martins
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