segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

BACK TO BASIC

                                  DA TERRA VEM TUDO QUE PRECISAMOS
Quase todos os reis da 1ª dinastia impulsionaram o nosso desenvolvimento agrícola, porque inteligentemente previam que o nosso melhor ouro residia nas espigas alouradas das nossas searas. Portugal pôde então colher cereais em quantidade bastante para os seus gastos e para fazer apreciável exportação.
Depois a nossa agricultura decaíu. A ânsia de descobertas e conquistas roubou-lhe os melhores braços; a pecuária, desfalcada, não fornecia os estrumes necessários para refazer a fertilidade das terras cansadas; os afolhamentos deixaram de nos merecer aquela importância que romanos e mouros sabiamente lhes ligaram; a guarda dos campos era insuficiente e os frutos ficavam à disposição de vadios e meliantes. Através dos séculos, parece que foram sempre os mesmos os males que afligiram a nossa lavoura!
Porém, o que avulta, quando atentamos na nossa História Agricola, é a simultaneidade do ouro e das riquezas, vindos do exterior, e da fome e da miséria, geradas no interior. Quantas mais conquistas, maior desordem; quanto mais ouro, maior miséria, e o espectro da fome tomava tais proporções que os miseráveis corriam para Lisboa aos bandos e caíam pelas valetas, famintos e agonizantes. Demonstrava-se assim que nada poderia corrigir a fome e a miséria que resultariam fatalmente do abandono dos campos.
A despeito de tantas descobertas e conquistas, era à agricultura que tínhamos de ir buscar o suprimento neceSsário para nos ressarcirmos dos efeitos depauperantes de tantas aventuras. Portugal tinha sido e havia de continuar a ser uma vasta família agrária. Não devem por isso desanimar os homens do campo. Cada vez com maior clamor, o citadino há-de pedir socorro ao camponês. Mas é preciso robustecer a lavoura instruindo, educando, unindo toda a família agrária.
Hoje a agricultura não pode deixar de ser olhada como uma ciência muito complexa. Porém, ao agricultor, que explora a sua propriedade, não é necessária uma tão vasta soma de conhecimentos. Basta-lhe aprender um certo número de noções adquiridas pela observação, investigação e estudo dos agrónomos e já confirmadas na prática de outros agricultores.

NOTA – Este texto foi respigado de um trabalho do médico e agricultor J.T.Montalvão Machado, publicado pela Portucalense Editora em 1959.
Transcrito por Amândio G. Martins





Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.