sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Ambiente, ideologia e sistema político

Aqui há dias envolvi-me num debate com o Ernesto Silva (ES) e com o José Rodrigues (JR), a que prometi voltar ontem. Afinal é hoje e continua versar o tema a que o primeiro deu o mote: "capitalismo e alterações climáticas". Posteriormente o JR veio dar a sua achega, num texto que, noutra linguagem, muito se aproximou do de ES. E que este aproveitou muito bem num comentário ao dar razão a JR, ou melhor... à segunda parte do que ele escreveu na resposta que deu ao meu comentário sobre ele. Tentando resumir, o ES acusa o capitalismo da destruição do meio ambiente, mas nunca responde a que sistema político podemos recorrer para "salvar o planeta" e à minha pergunta sobre quem seria, acaba por se socorrer da palavras do JR para designar tal "entidade" político-ideológica: o Estado. Só que este é, pelo próprio JR, o que arranja de melhor para solucionar o drama (final?) que todos estamos a viver. Até lhe chama...utopia. E sobre utopias de Estado... estamos conversados com a implosão da maior do século XX. Pareço liberal? Pois não sou, simplesmente sei muito bem que todo o Estado centralizador "à outrance" tende a tornar-se totalitário e... não há sociedade humana que resista à degradação que provoca. Do outro lado está o tal liberalismo rapace que ajuda à delapidação do ambiente, ao libertar os "demónios" dos egoísmos individuais, dando-lhes "carta de alforria" para todas as barbaridades. Um destroi a alma, outro o mundo físico em que todos habitamos. E aqui poderão dizer-me: mas afinal que "solução" dás tu? E vou surprender-vos, talvez: não sei!
Mas, começando a "filosofar", digo-o com um pessimismo assumido que resulta de como vejo o mundo. É que este drama do "fim deste mundo" é mesmo o problema magno deste nosso tempo e não se joga em sistemas político-ideológicos retroactivos e projectados, ora atacando ora defendendo os mesmos. E introduzo aqui a achega do Amândio Martins (AM) que se atem ao quanto " o ser humano, não se portando bem, desafiou a natureza que agora o castiga". Mais uma visão. Comunismo não, liberalismo capitalista sem limites, também não, "castigo divino" mediado pela natureza ( digo eu), o que fica? Pois, com o tal "pessimismo optimista: fica o Mundo e tudo o que está nele, embora diferente. Como diferente foi sendo sempre desde que, há 13,5 mil milhões de anos o Big Bang iniciou o tempo, a energia e a matéria... a física. E continuou com, 300.000 anos depois com a química. E há 3,8 mil milhões o aparecimento da biologia. E só há 70.000 mil anos o "homo sapiens". E este agora "vai à ópera". E depois? Uma nova espécie dentro do homo? Talvez,... talvez mesmo. Poderá ser "injusto" para nós viventes, mas neste "contínuo" será muito redutor ter uma visão demasiado antropocêntrica e, muito menos, politicamente normativa para o futuro, por muito que todos nós o queiramos com a nossa pequenez temporal com lampejos, quer se cinjam a Marx, a um capitalista de nome feito. ou simplesmente à vasta "natura".
Vai longo o arrazoado e por aqui me fico. Grato.


Fernando Cardoso Rodrigues

6 comentários:

  1. A chamada «geringonça», por cá, foi um travão ao capitalismo puro e duro... insuficiente claro a travar e muito mais insuficiente a avançar... devido sobretudo à natureza do PS e aos seus compromissos... quebrar ligações ideológicas com o capitalismo é um caminho a prosseguir... para bem do clima e ambiente e do desenvolvimento económico e social. Já agora, deixo aqui a informação que o Jornal de Notícias publicou hoje, com o título «O capitalismo não é verde», parte do texto aqui colocado no blogue em 17 de Julho, lembrado com novo desenho em 16 de Agosto. O texto além de enviado em 17 de Julho, foi reenviado em 6 de Agosto. Alem de alteração ao título, também algumas adaptações e cortes. Mas o texto era um pouco comprido...

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    1. Pelos vistos a sua técnica do "duas vezes" merece patente. Nas cartas e... no blogue. E a imprensa livre - Público e JN - também continua a"disfarçar" bem com o uso de diferentes jornalistas de triagem... Quanto ao ambiente, bom, nada disse, a não ser o "bem" que (a parte eleita) da "geringonça" trouxe (!)...

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  2. Colocado da maneira com o Fernando tem feito, o tema não é nada fácil, sobretudo sem cairmos no maniqueísmo a que Manuel Carvalho alude no editorial do Público de hoje (ontem). Como já dei a entender anteriormente, tenho a certeza de que, a haver uma entidade que “ponha mão” no problema, terá sempre de ser o Estado. Os particulares já mostraram o que valem, como reconhece o próprio liberal que me suscitou o post “Retrato de liberal com crise climática”, justamente na frase que respiguei do artigo dele. Com que sistema o Estado o fará, francamente não sei.
    Socorrendo-me, uma vez mais do Público, vou citar Rui Tavares na edição de hoje (ontem): “Temos de lutar para salvar o mundo com as diferenças ideológicas que entre nós existem e com as ferramentas do mundo que já temos.” E ainda: “... um mundo futuro, baseado num novo contrato entre humanidade, natureza e tecnologia.”
    Nestes passos, concordo com ele, o que denuncia que penso que há-de ser uma “coisa nova”, logo, que ainda não existe, nem existiu. Sinal de que os sistemas que já por cá passaram não serão capazes de resolver o problema. Mais uma vez, me vejo tentado a falar em “utopia”... E mais não arrisco, por agora, dizer.

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    1. Muito pragmaticamente - daí ter falado da "nova espécie" - tendo a alinhar com o Yuval Noah Harari. Com a limitação de estar vivo, com medo e esperança, no tempo que é o meu/nosso tempo, limitado portanto, mesmo desalinhado, estética e espiritualmente,com essa hipótese, julgo que iremos por aí... O que, aliás, já foi ficcionado por Ian McEwan no "Máquinas como nós", em que o robô ultrapassa mesmo o "sapiens" -espantem-se! - na própria Ética...

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  3. Quanto ao ambiente, repetindo pela terceira vez, depois de comentar no texto de 17 de Julho e repetir na publicação de 16 de Agosto aqui no blogue, algumas medidas: «a gestão pública de áreas protegidas e o seu alargamento; aplicação efectiva e eficaz dum plano de ordenamento do território; promoção do transporte público, incentivando um maior alargamento de passes sociais e admitindo evoluir para a gratuitidade; combater a liberalização do comércio mundial, estimulando e apoiando a produção local, acabando com os enormes sistemas logísticos e a sua gigantesca frota de transportes, aéreo, marítimo e rodoviário; reduzir as emissões de gases com medidas e normas específicas, combatendo para que tal não se transforme em mais um negócio; impedir a mercantilização da água; investimento público na área ambiental». Medidas que estaremos de acordo o capitalismo nunca aplicará... pelo que se justifica a evolução que afaste ou condicione o mais possível os defensores do capitalismo da área do poder político.

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