segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Retrato de liberal com crise climática


Li há dias, no Público (15.08.2019), um interessante artigo subscrito pelo presidente do partido Iniciativa Liberal (sim, sim, esse, provavelmente não o último, mas o mais recente de Zita Seabra). Eivado de preocupações com a crise climática e a procura de caminhos para todos sairmos dela, o articulista pretende demonstrar que os raciocínios “marxistas”, que defendem a “destruição do capitalismo” como forma de acabar com a deterioração climática, não são solução. A seu ver, esta passará pelo incremento do desenvolvimento tecnológico e pelo investimento (privado?) em “estações de dessalinização” e outras. Duvidando, mas não contestando que  o crescimento económico pode ser solução do problema, lembro que a crise actual, em que se extrai da Terra mais do que ela tem e pode regenerar, é diferente da dos tempos de Malthus, em que era necessário produzir mais do que os meios permitiam. Mas uma frase, (“A economia também nos diz que quando temos um bem partilhado, os incentivos de cada um a cuidar desse bem são muito pequenos”), deixada cair por “descuido” no texto, vem revelar uma contradição profunda dos liberais. Pois é, só o “colectivo” consegue coisa tão simples como cuidar dos bens comuns. 



4 comentários:

  1. Como o José sabe, tenho vindo a trocar palavras com o Ernesto Silva sobre o assunto. Como também entrou por ele adentro, posso perguntar-lhe - se o capitalismo é manifestamente incapaz de resolver o lixo que produz- quem o poderá fazer? Numa só palavra, tal como a do capitalismo...

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    1. Caro Fernando,
      Suspeitando que me ia fazer essa pergunta, ou outra parecida, devia ter-me preparado melhor. Como não o fiz, nenhum remédio me resta que não seja arrostar com as consequências. De qualquer modo, ainda que sem qualquer suporte de ordem teórica (praticamente sou um leigo no assunto), e por mero gozo intelectual (seguramente meu e, espero, também seu) deixe-me perorar um pouco sobre a matéria, sempre ao sabor da pena.
      Se eu tivesse a resposta certa à sua pergunta, mereceria, não o milhão de dólares do famoso prémio, mas muitos, muitos milhões. No estado actual da Ciência, ainda hoje há, e sempre haverá, dificuldades humanas inultrapassáveis. Por exemplo, a morte. Mas não é por aqui que vou fugir à sua questão, à qual não desejo mesmo escapar.
      A sua pergunta, “quem o poderá fazer? Numa só palavra…”, é muito mais do que exigente. Como seria possível dar-lhe a resposta numa só palavra? Verá, mais adiante, que vou avançar com um substantivo, só um, mas sempre cônscio de que ele necessita de muitos adjectivos.
      Quer-me parecer que a resposta “ideal” que aguarda é que lhe indique um sistema económico. Não o farei, e compreenderá facilmente as razões. Qualquer sistema económico ou, pelo menos, a maioria, é perfeito no “papel”. Na “prática”, é apenas aquilo que os homens fazem dele, sempre com distorções. Poderemos encontrar belíssimas consequências para o comum dos homens em sistemas tão díspares como o capitalismo, o comunismo, o socialismo e, até, se quiser, no corporativismo. Se recuarmos um pouco na História, até se arranjarão exemplos que enquadraram o esclavagismo, o feudalismo, and so on, and so on.
      Tal como o mundo se encontra hoje organizado, penso que só haverá uma saída. E cá vai o substantivo anunciado, o Estado. Que Estado? Como já avisei, precisa de muitos adjectivos ou, melhor dizendo, predicativos. Adianto alguns: regulado, capaz, não-totalitário, árbitro respeitado, bem-intencionado, emanante da população, independente dos poderes instalados, isento perante os sub-grupos sociais, atento ao Saber, e muitos outros que não sou capaz de elencar aqui. Mas, talvez mais importante do que tudo isso, o mundo terá de ser composto de Estados cuja maioria, nesta luta anti-crise climática, persiga uma concertação efectiva e sincera. Cada um deles poderá adoptar o sistema económico que entender, no pressuposto de que os predicativos que referi sejam cumpridos. É possível? Não sei. Talvez não passe de mais uma Utopia... e, é claro, muita ingenuidade minha. De uma coisa estou certo, e creio que não erro: o problema não será resolvido com o crescimento económico a eito e à solta que alguns defendem. Como, veladamente, o autor do artigo do Público.

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  2. A Zita andou muitos anos a enganar o seu povo, até que um dia alguém a interpelou: Zita, se abra. E ela se abriu e (naturalmente) foi parar ao pêpêdê.

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    1. Caro José Valdigem,
      A Zita não "parou" no pêpêdê. Já seguiu para o I.L. Até ver...

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