quarta-feira, 21 de agosto de 2019


Da destruição irreversível...


Uma das grandes figuras do Renascimento, Marsilio Ficino, ficaria hoje abismado ao ver no que deu o seu grito de esperança “Conhece-te a ti mesma, ó estirpe divina em vestes humanas!”, quando a humanidade se libertava das “grilhetas” medievais e se projectava como infinitamente grande e preciosa, com o incentivo de que se podia desenvolver livremente e tinha possibilidades ilimitadas.

 Estabelecia-se como objectivo ultrapassar todos os limites, contrariando o que haviam ensinado grandes humanistas da antiguidade, que propunham serenidade, temperança e autodomíno; todavia, facilmente hoje percebemos que autodomínio, serenidade e temperança não são qualidades que o homem actual se esmere por cultivar, o que está bem patente no estado a que tudo chegou.

Galileu Galilei estabeleceu que o livro da Natureza estava escrito em caracteres matemáticos, que devia medir-se tudo que pudesse ser medido e tornar mensurável o que não pudesse ser medido; e através de muita experimentação e medições abriu-se caminho para a exploração da Natureza, porque o homem já não era apenas uma parte dela,  passando a seu explorador e usufrutuário.

Com a proposição de Francis Bacon, “saber é poder”, o homem interveio desenfreadamente na natureza, até que ela agora se revolta e, pelo que se vai vendo, não vai deixar barato, como castigo de termos acordado tarde para os efeitos irreversíveis das agressões praticadas...


Amândio G. Martins

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