segunda-feira, 12 de agosto de 2019


Gente extraordinária...


Tinha acabado de cumprir o serviço militar quando fiz exame de condução, pelas ruas do Porto, que me habilitou a conduzir motociclo, que era o meio de transporte próprio que tinha planeado comprar, por estar mais acessível à minha capacidade económica; todavia, alguém que gostava de mim alertou-me para o erro que cometia, pois já tinha uma criança e vinha outra a caminho, que não poderia transportar em segurança e comodidade para lado nenhum.

Assim, convenceu-me a tratar da carta  para conduzir automóvel e emprestou-me o suficiente para dar entrada na compra de um carrito novo, sugestão que aceitei sem pestanejar e de que nunca me arrependi; resultou desta mudança de plano que, “encartado” para conduzir “duas rodas”, nunca mais pus o traseiro em cima duma coisa daquelas, e não me atreveria hoje a tentar montar aquilo, apesar de ter ficado na carta o averbamento “motociclos”.

E admiro dois vizinhos que, já próximo dos noventa anos, se deslocam para todo lado em duas rodas com a mesma agilidade de dois rapazes cheios de genica, deixando-me a tremer de medo quando, ao cruzarem-se comigo, me acenam tirando a mão do guiador, o que já me fez pedir-lhes para não o fazerem porque, se caírem, ainda vou sentir problemas de consciência por ter sido por minha causa, ao que eles se riem dizendo que a motoreta nunca lhes faria uma tal desfeita porque já faz parte deles...


Amândio G. Martins



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