Sem razão aparente, vejo-me apanhado por uma certa nostalgia que por norma resolvo, por exemplo, rever um filme que me tenha marcado. Ontem, procurando nos arquivos que a tecnologia nos oferece, leio o título do filme “Pôncio Pilatos” e como apreciador de filmes bíblicos, e não hesitando na escolha que sabia ir deixar-me satisfeito, foi só carregar no play e começar a recordar todas a cenas que já tinha visto diversas vezes. Por não ser o local próprio, não irei ter a veleidade de estar para aqui a contar o filme, mas desculpem-me, tenho que vos recordar a cena em que Pilatos pergunta à multidão: quem devo perdoar, Jesus ou Barrabás? E o povo bradou Barrabás. E que faço a Jesus? E a multidão gritou, que seja crucificado! Então, Pilatos, para não ser denunciado traidor, pede água e “lava as mãos” perante o julgamento do povo.
Com o estado nostálgico ultrapassado, ligo a TV num canal informativo que abre o jornal com a notícia de última hora que em Atenas, Aléxis Tsípras tinha decidido convocar para o próximo dia 5 de Julho um referendo perguntando ao povo helénico se aceita ou não o acordo com os credores num gesto muito semelhante ao que se passou há cerca de dois mil anos.
Que dirão agora todos aqueles que andam há seis meses a referir-se a Tsípras como o único político com coragem para bater o pé aos credores e que devia ser um exemplo para todos e sem nunca se referirem à chantagem exercida graças à posição geográfica da Grécia? Coragem para passar a batata quente aos eleitores depois de todas as promessas? Confesso que a nostalgia que sentia se transformou num sentimento de melancolia.
Resta-me terminar lamentando a situação para onde foram empurrados os gregos.
Jorge Morais
Enviado para a imprensa em 27.06.2015 e publicado no JN em 09.07.02015
Já tinha lido no JN, e, na generalidade, estou de acordo com o seu texto - Jorge Morais.
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