segunda-feira, 6 de julho de 2015

E AGORA?



Um povo decidiu, num acto de grande coragem que a sua dignidade era ainda mais importante que a solvência do seu sistema financeiro. Decidiu pela sua soberania, conceito que irrita muita gente. Decidiu que mesmo na adversidade e no mais que provável agravamento da mesma, quer continuar a ter voz para decidir, sejam boas ou más as escolhas que faça.

Entretanto, aumenta o nível do ruído externo – um sururu: políticos rasteiros e obstinados precisamente pela sua debilidade de fracos políticos, comentadores apaixonados pelo som das suas próprias palavras, analistas comprometidos com as engenharias falaciosas das suas análises por encomenda, jornalistas que fazem favores – todos - insistem apesar de saberem que são fracos, no jogo de pitonisas e oráculos, nos palpites e nos considerandos, com caras muito circunspectas, paternalistas e protectores, como se fossem as pessoas mais sérias deste mundo, anunciando desastres, semeando pessimismos, prometendo castigos.

A grande crise da Europa não está no descontrolo e má gestão das dívidas públicas, está na anorexia do seu Humanismo. Este é tolerância, respeito, solidariedade, aceitação da diferença, diálogo, inteligência emocional.

E quando este emagrece, altera-se o equilíbrio. O homem fraqueja: alquebra-se ou embrutece, mendiga ou chicoteia, transforma-se num homem sem ideais. A sua ausência, desertifica o pensamento, torna as pessoas vazias, apáticas, vegetativas. E quando as pessoas ficam assim, com o sistema imunitário em baixo, é fácil serem atacadas pela manipulação, pelo cinismo, pelas artes circenses dos discursos – “sérios” e com gravata.

Agora será o que tiver que ser, mas é uma excelente oportunidade para o cidadão europeu fazer uma pausa, reflectir honestamente consigo próprio sobre o que quer para si, o que quer para os seus vizinhos, como vê a representação partidária enquanto “sinónimo” autocrático de democracia, que pontuação dá à credibilidade e  confiança das instituições europeias, e corajosamente, fazendo um esforço para sair do entorpecimento meio anestesiado em que se deixou ir, dizer de viva voz para onde quer ir.

Pode ser que depois de Domingo nem tudo seja mau, pode mesmo ser que seja uma boa oportunidade.


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