Um povo decidiu, num acto de grande coragem que a sua
dignidade era ainda mais importante que a solvência do seu sistema financeiro.
Decidiu pela sua soberania, conceito que irrita muita gente. Decidiu que mesmo
na adversidade e no mais que provável agravamento da mesma, quer continuar a
ter voz para decidir, sejam boas ou más as escolhas que faça.
Entretanto, aumenta o nível do ruído externo – um sururu:
políticos rasteiros e obstinados precisamente pela sua debilidade de fracos
políticos, comentadores apaixonados pelo som das suas próprias palavras,
analistas comprometidos com as engenharias falaciosas das suas análises por
encomenda, jornalistas que fazem favores – todos - insistem apesar de saberem
que são fracos, no jogo de pitonisas e oráculos, nos palpites e nos considerandos,
com caras muito circunspectas, paternalistas e protectores, como se fossem as
pessoas mais sérias deste mundo, anunciando desastres, semeando pessimismos,
prometendo castigos.
A grande crise da Europa não está no descontrolo e má gestão
das dívidas públicas, está na anorexia do seu Humanismo. Este é tolerância,
respeito, solidariedade, aceitação da diferença, diálogo, inteligência
emocional.
E quando este emagrece, altera-se o equilíbrio. O homem
fraqueja: alquebra-se ou embrutece, mendiga ou chicoteia, transforma-se num
homem sem ideais. A sua ausência, desertifica o pensamento, torna as pessoas
vazias, apáticas, vegetativas. E quando as pessoas ficam assim, com o sistema
imunitário em baixo, é fácil serem atacadas pela manipulação, pelo cinismo,
pelas artes circenses dos discursos – “sérios” e com gravata.
Agora será o que tiver que ser, mas é uma excelente
oportunidade para o cidadão europeu fazer uma pausa, reflectir honestamente
consigo próprio sobre o que quer para si, o que quer para os seus vizinhos,
como vê a representação partidária enquanto “sinónimo” autocrático de
democracia, que pontuação dá à credibilidade e confiança das instituições europeias, e
corajosamente, fazendo um esforço para sair do entorpecimento meio anestesiado
em que se deixou ir, dizer de viva voz para onde quer ir.
Pode ser que depois de Domingo nem tudo seja mau, pode mesmo
ser que seja uma boa oportunidade.
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