segunda-feira, 5 de maio de 2014

Carta para Maria

Chegou o correio,
trouxe carta para Maria!

Maria olhou, de soslaio,
desconfiou.
Que raio!
Maria nem ler sabia,
não podia ser,
pediu-me para a ler,
era do patrão,
Maria estava despedida!

Maria,
nervosa,
agarrou-me a mão,
perguntou-me:
-"Porquê?"
-"Devido à reestruturação", disse-lhe.

Maria fôra atingida.
Estava despedida!
Trágico, aquele mês!
Primeiro fôra o marido.
agora a sua vez!

O casal desempregado!

E agora pão para os filhos?
ainda na escola!

Maria adivinhava sarilhos,
desfalecia!

Um dia,
vi Maria, de sacola,
a mendigar,
ouvi vozes a dizer:
-"Vai trabalhar."

Vi Maria, a chorar,
perdida na vida!

Procurava trabalho,
foram dias,
meses a fio,
a eito,
depois veio o Inverno,
o frio,
uma dor no peito!

Maria,
com mais de cinquenta anos,
pressentia que para si
o trabalho já estava feito!

Mas Maria continua,
por aí,
a pedir trabalho
ou pão!

O patrão,
esse continua em reestruturação!
Dá novos empregos a futuros desenganos!

Senti-me culpado,
lera aquela carta.
Agora,
quando à minha porta bate,
dou-lhe algo,
que logo com seus reparte,
depois continuo a ler o jornal,
reparo num título:
" Moderna tecnologia provoca desemprego,
faz-se num dia o que numa semana se fazia"

Mais tarde,
soube que Maria ficara gravemente doente,
enquanto o patrão
e a sociedade continuam em reestruturação!

Mas,
muitas Marias e Maneis só querem trabalho
ou pão e mais humanas leis.
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(o figas de saint pierre de lá-buraque)
Gondomar-PORTUGAL
Nota: Este "poema" tem 16 anos

3 comentários:

  1. Poema bem conseguido, numa estrutura poética do realismo, ao jeito de Manuel Bandeira e outros poetas brasileiros. Um quadro, pintado há 16 anos, mas, infelizmente descrevendo o presente, como se fosse premonitório. Um belo poema. Parabéns.

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  2. Este poema espelha bem o nosso quotidiano, em que o trabalhador é cada vez mais carne para canhão.

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  3. O poema é infelizmente eterneo. Já aconteceu, às vezes apareceu a esperança e há muito que é de todos os dias. E afinal há tanto para fazer e tanta gente sem trabalho.

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