Partiste há quarenta anos e não deixaste saudades, partiste contrariado eu sei podias ser amor tal como ele o teu nome tem quatro letras, foram décadas e décadas que vivemos sob o teu jugo, tínhamos muito de ti, as nossas conversas menos inclusivas eram quase ciciadas de ouvido em ouvido porque tínhamos muito de ti, um dia aconteceu que quase corríamos contigo mas às portas de Lisboa os homens que vinham para te afastar foram eles afastados e tu permaneceste impávido e sereno ao virar de cada esquina, tínhamos muito de ti e tu orgulhavas-te disso eras a arma e o fogo de muitos canalhas, graças a ti não só a ti mas também a ti os tiranos nos seus bordéis impunham a nossa forma de viver, havia homens e mulheres sem ti mas estavam escondidos ou andavam por outros países que não este a fazer coisas para que saísses de vez das nossas vidas mas, tínhamos tanto de ti e como já atrás disse podias ser amor, também tens quatro letras mas desconfio até que nem saibas o que é amor, amor é viver com um permanente querer estar e dizer “estou aqui e quero-te” e nós queríamos outra coisa que não tu e no entanto, tínhamos tanto de ti, os barcos partiam levando os nossos jovens para terras que ficavam do outro lado do mar e também eles quando partiam tinham tanto de ti, as famílias no cais diziam adeus com lenços de lágrimas feitos porque também elas tinham tanto de ti, se não fosses tu talvez as pessoas cantassem mas cantar tal como amar era proibido, tudo nos era proibido era uma terra parada no tempo e na solidão de todos os mundos, por vezes não tantas como as necessárias escondiamo-nos e cantávamos canções que te provocariam um ataque cardíaco, nessas alturas não tínhamos nada de ti, no restante tempo sim, tínhamos tanto de ti.
Mas numa madrugada clara e límpida como as madrugadas que se querem felizes obrigámos-te a trocar de lado, os velhos do bordel de S. Bento e outros tantos sítios provaram-te nesse dia e não gostaram do sabor, no entanto tinham-nos te imposto como travo amargo de fel a estas gentes que iam começar a cantar, a sorrir, a amar e agora eram eles que tinham tanto de ti, não gostaram nunca tinham provado o teu sabor amargo de fel e eles nesse dia tiveram tanto de ti, como nós durante tanto anos quando um só dia era de mais e como já te disse e repeti podias ter sido amor, tens quatro letras, ainda não disse teu nome e embora agora nestes tempos de sal voltem a querer que tenhamos tanto de ti já não te receamos nem a ti nem a ninguém, hoje graças áquela mágica madrugada não temos nada de ti, nunca voltaremos a ter nada de ti, não te nomeei ainda mas não é por ter algo de ti, não tenho nada de ti e mesmo que teimes que arranjes velhos de quarenta e tal anos para nos te imporem jamais o conseguirão, afastámos te de vez das nossas vidas, não temos nada de ti, quem começa agora a ter algo te ti são esses velhos de quarenta e tal anos para quem a vida tem sido um constante atropelo dos demais que começam a ter algo de ti, talvez numa madrugada pelo meio dia ou pela meia noite ou até pelas 20 na abertura dos telejornais eles tenham muito de ti que vives escondido na espera de que alguém te tenha mas nós não, nessa clara madrugada aprendemos também esta palavra não, aprendemos tanto tu que tanto fizeste para que nada soubéssemos, se queríamos gritar tínhamos o futebol, se queríamos musica tínhamos fado, agora gritamos onde nos apetece e ouvimos as musicas que queremos porque, já não temos nada de ti, pois é, podias ser amor mas quatro letras eram outras eram um m um e um d e um o que juntas formavam medo mas hoje já não temos nada de ti e embora os sabujos de fato azul azul te queiram impor já várias lhes dissemos não e repetiremos até à exaustão a palavra não como se conjugássemos o verbo amar.
tínhamos-te, mas hoje, em muitas mentes ainda paira a ideia de que alguém venha a ter tal submissão,mas, eu, direi não!
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