É
o que, por esta altura, nos fartamos (realmente, não…) de ouvir (e retribuir).
Aliás, aproxima-se o Outono e logo se ouve falar do “fim-do-ano” e, daí, do
“Ano Novo”.
Além
das promessas de “novas vidas” (fazer dieta, mais exercício, poupar mais,
etc.), sempre muito por cumprir, diz-se que no primeiro dia do Ano Novo “dá
sorte” estriar uma peça de roupa nova, por exemplo, umas calças novas.
E
este ano, do ponto de vista político, especialmente quanto ao Governo e à
Presidência da República, passámos a ouvir falar do “tempo novo”.
“Ano
Novo”, calças novas, “tempo novo”.
Quanto
ao Ano Novo, sabemos, é novo mas é sempre do mesmo “modelo” (com uma ligeira
variação quadrianual de um dia, como neste ano, bissexto, de 2016). Ou seja, é
(quase) o “mesmo” ano, do mesmo “modelo” que o “velho”. É um “Ano Novo” mas,
realmente, não é um novo ano.
O
mesmo acontece com as calças. Não obstante serem novas, também são do mesmo
modelo. As “mesmas” velhas jeans de
que gostamos. Novas“ a estriar”, sim, mas não umas novas calças.
E
quanto ao “tempo novo”? Incógnita. Politicamente, o conceito é, ele próprio,
novo. Quanto ao Governo, de facto, há já sinais claros de um tempo
(relativamente) novo, de modelo diferente do “velho” (ou melhor, “revelho”,
melhor ainda, “neovelho”). E do ponto de vista presidencial? Será que, no
essencial, vamos (querer) voltar a um tempo (mais ou menos) do mesmo modelo do
“tempo velho” de dez anos?
A
estas perguntas subjaz um outro conceito que, intimamente ligado ao de “tempo
novo”, não é, ele próprio, novo: o conceito de “homem novo”. Homem novo não,
claro, no mesmo sentido, meramente físico (a clonagem humana é será sempre uma
ficção…), do ano novo e das calças novas mas, sim, “apenas” no sentido humano e
social (e, logo, político) no sentido de (novamente) ter por objecto e
objectivo a dignidade, a solidariedade, a humanidade.
Daí
que, voltando ao “tempo novo”, não basta proclamá-lo. É indispensável fazer-se
(propor-se, contribuir-se, participar-se, trabalhar-se, governar-se,
presidir-se…) para (com) que esse tempo seja, de facto (e não só de retórica),
como novo tempo, um “tempo novo”: de esperança e confiança nos (pelos)
princípios, direitos, responsabilidades, ideias e práticas da (na) economia, da
(na) sociedade, da (na) Política.
É
que “tempo”, para não ser um conceito abstracto, tem que ser entendido como
aquilo que se faz (faz fazer, faz-se com outros, ajuda-se a fazer, …) com ele,
com o tempo.
Por
isso, para dar sentido ao voto inicial de bom Ano Novo! (ou, melhor, bom Novo
Ano!), o voto final é o de bom “tempo novo”! (ou, melhor, bom novo tempo!).
J. Fraga de Oliveira, Sta
Cruz da Trapa
(publicado no PÚBLICO de 12/1/2016 – pag. 44)
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