Santana-Maia Leonardo - Rede Regional de 31-12-2015
O que mais me revolta não é assistir à arrogância dos poderosos mas à subserviência e ao conformismo dos pobres. E o que se está a passar neste momento no mundo do futebol português é o espelho do nosso país. Também aqui os Clubes-do-Arco-da-Governação estão apostados em ir além da "troika", ou seja, em aprofundar ainda mais as desigualdades e as assimetrias existentes entre clubes ricos e pobres, apresentando isso como uma inevitabilidade para a redenção do futebol português.
Enquanto nas outras ligas europeias, com a centralização dos direitos televisivos, se procura atenuar as assimetrias e, dessa forma, aumentar a competitividade, em Portugal a ganância dos Donos-Disto-Tudo não consente sequer que os outros clubes aspirem a lutar como gladiadores, ainda que com desigualdade de armas, no circo romano em que se transformou o futebol. Pelo contrário, em Portugal, o papel que os Grandes-de-Lisboa-Porto reservam aos outros clubes é o de simples cristãos destinados a ser devorados pelas três feras para gáudio das suas legiões de fiéis.
É bom, no entanto, recordar aos mais distraídos que Benfica, Sporting e Porto apenas venderam os direitos televisivos dos jogos nos seus estádios, o que significa que os seus milhões de adeptos, como gostam de se vangloriar, também hão-de querer ver os jogos fora disputados em casa dos “pequenos”, como gostam de nos tratar do alto da sua soberba.
Ora, bastava que os tais “clubes pequenos” tivessem à sua frente gente com o meu feitio, que prefere morrer de pé a viver de cócoras, para que os Grandes-de-Lisboa-Porto tivessem de engolir a sua arrogância e a sua altivez. Das duas uma: ou as operadoras pagavam o dobro do que pagaram aos três grandes juntos ou os jogos em casa dos “grandes” seriam transformados num festival de auto-golos não dando sequer oportunidade aos jogadores da equipa da casa de tocarem na bola. Veríamos, então, se os milhões de adeptos dos “Grandes” continuavam a exultar com tão gloriosas vitórias de 150 e 160 a zero e se as televisões davam por bom o investimento feito.
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