quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Portugal e os Descobrimentos (IX - continuação)

Compatriotas,
Em Janeiro de 1988, por iniciativa de O Comércio do Porto, levou este jornal diário a efeito um certame intitulado ‘Portugal e os Descobrimentos’, em que os leitores poderiam dar o seu contributo, através da rúbrica ‘Rota dos Leitores’.
Contribuindo com muitos trabalhos, quero convosco compartilhar uma pequena parte dos mesmos e que foram publicados pelo citado jornal nortenho.
Assim, transcrevo-vos parte do que de meu nele foi publicado em 13/5/1988:
O ALMOCREVE DA NOSSA EPOPEIA MARÍTIMA
DIFICULDADE ALÍSIA
O “almocreve” da minha poesia,
Ouvindo o ressoar do Atlântico mar,
Meditava sobre esse deserto de água,
Onde nenhuma nau s’afoitara sulcar.
Pensava na encosta incógnita d’África,
Onde apenas a orla conheceu,
Quando a Ceuta foi e cimentou
Aquele sonho, aquele desejo seu.
Os mouros tinham-lhe dito
Coisas que nos livros não lera,
Desde a imensa vastidão do Sara
Até fascinantes paragens tecera.
Nomes sugestivos enfeitavam
Narrativas fantasistas de viajantes,
Eram lugares nunca dantes vistos
Por qualquer europeu dantes.
Havia um reino cristão
Algures nas montanhas africanas,
Era a terra do Prestes João,
Possível aliado, presumível irmão.
A partir do Rio do Ouro
Novo obstáculo se segue:
São os alísios ventos
Soprando, montando sebe.
Assim, na ida é fácil,
Mas no regresso o vento,
Contrariando o esforço,
É no esforço lamento.
É praticamente impossível
O regresso ao pátrio lar,
Mas novo tipo de barco
Altera tão vil penar.
Surge então a caravela
Com suas velas latinas,
É capaz de bolinar
E contra o vento avançar.

D. Henrique – o “almocreve” – cogitava:
Como poderiam os cristãos
Ao Oriente chegar?
Países de encantar
Descritos por Marco Polo.
As vias terrestres fechadas
P’lo domínio muçulmano
Deixava restar somente
A inexplorada, a incógnita
Via marítima.
Os árabes grandes viajantes eram,
Viajando por terra e mar,
Mas nunca s’aventuraram viajar
No “Verde Mar das Trevas” ou ousar.
Era um deserto movediço,
Abismo sem costa nem nau,
Dentro dos trópicos fervia,
Tudo nele era mau.
D. Henrique sonhador era
Sem ir atrás da quimera,
Era um homem d’outra era
Em turbilhão de tanta espera.
Tinham morrido as estrelas
No retiro à beira-mar,
Dois navios com velas
Ele mandou equipar.
E assim o seu sonho
Se tornou realidade,
Foi um começo risonho
P’ra tod’a humanidade.
DESPEDIDA
De Janeiro a Maio nós navegamos
Rotas conhecidas, outras ignotas,
Fomos por tudo isso os remos
Que por tod’a parte rasgaram rotas.
A obra da Odisseia Quinhentista
Foi o sonho d’o “grande senhor”,
Agora tem sido tão benquista
Nas páginas deste jornal como penhor.
Desde um povo coeso e anónimo
Até aos grandes ficados em Nossa História,
O mundo tão longe tornou-se próximo,
O mundo a Portugal deve tal glória.
A obra do Infante D. Henrique
Transbordou o mundo d’emoções,
Mas para que tal isso mesmo fique
A um se deveu – ao épico Camões.
Mas mesmo hoje e agora
Novamente o povo anónimo se levantou,
Na “Rota dos Leitores” – Portugal fora,
Muitos dos feitos lá se “cantou”.
Só me resta agora agradecer
O prazer que me foi dado
N’O Comércio do Porto” meu nome ver
E Portugal tão belamente sublimado.
de José Amaral e fotografia também da sua autoria

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