É DA TERRA QUE COMEMOS!
A forma didáctica
como o senhor Francisco Ramalho descreveu a sua plantação de batatas merece
toda a consideração. Só tenho pena não o ter por perto, porque na minha aldeia
não há gente sem terra, bem pelo contrário, há muita terra sem gente, dado os
braços mais vigorosos procurarem outras ocupações, cá dentro e lá fora…
De facto, eu
próprio não tenho como cultivar todo o espaço que temos disponível para
agricultar, pelo que lhe cederia de boa vontade umas centenas de metros, sem
renda. Assim, como cá em casa só eu “dobro a espinha”, cabendo às senhoras a
tarefa de ir colhendo e cozinhando, limito-me a cultivar a que está mais próxima,
cerca de trezentos metros de distância, onde faço uma horta com tudo quanto
existe, já que se trata de solo rico em humus, com nascente de água própria, além
de se situar na margem de um ribeiro.
É que quando
construí a casa, vai para quarenta anos, o terreno era uma bouça de pinheiros e
eucaliptos, pelo que tive de arrasar aquilo e plantar de novo tudo quanto eram árvores
de fruto, sem me lembrar que quando tudo aquilo crescesse se transformaria num
bosque cerrado, e foi o que aconteceu e agora não tenho coragem de cortar, pelo
que há muito tempo que só posso colher aqui certo tipo de flores e favas, que é
uma leguminosa que se desenvolve quando a maior parte do arvoredo está nu de
folhagem.
No mais,
costumo plantar como diz que faz o senhor Ramalho, só as primeiras batatas, por
altura do Natal, sempre a pensar em colher batatinhas novas para acompanhar com
um tabuleiro delas assadas no forno o cabrito da Páscoa, e sempre têm vindo a
tempo para isso; no espaço maior, para o ano todo, lavramos toda a terra com um
tractor, que também nivela e abre os regos e depois é só colocar o estrume e os
tubérculos e pôr terra em cima, sem grande esforço.
Não uso
pesticidas em nada. Prefiro colher menos mas saber que não há ali venenos. Para
prevenir contra geadas e outros males uso a calda bordalesa feita por mim, na
razão de três quilos de cal para um de sulfato de cobre. Prefiro assim a comprá-la
já pronta, que também existe mas até parece que vai ser difícil adquirir sem
que as pessoas tenham um curso segundo directivas europeias, para saber lidar
com produtos perigosos, o que acho muito bem porque vê-se muita bandalheira no
seu manuseamento. Bom, e ia por aí fora e nunca mais parava…
Amândio G. Martins
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