segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Da lei do piropo

 

Cinco anos de lei do piropo...

 

 

Sendo mais ou menos consensual que piropo não é crime – e se é grosseria, não é piropo -  lê-se no JN que só um décimo das queixas resultam em acusação demonstrando, a meu ver, uma interpretação subjectiva do que é ofensa, conforme o estado de espírito do momento ou a maior ou menor simpatia que o “atrevido” terá despertado.

 

Segundo a deputada Carla Rodrigues -  que coordenou no Parlamento o processo legislativo que culminou na lei de 2015 – declarou ao jornal, o piropo propriamente dito é um elogio à mulher; o que se pretendeu criminalizar foi grosserias que atentam contra a sua autodeterminação como: fazia-te isto, fazia-te aquilo, ia-te aqui, ia-te acolá.

 

E tudo isto foi muito falado aquando da discussão pública da intenção de se fazer uma lei para pôr ordem no delicado assunto, tendo sido comentadas situações em que as mulheres, retorquindo -  e há muitas de língua afiada, que não se ficam – também podem fazer o homem, conforme a sua educação e poder de encaixe,  “meter o rabinho entre as pernas”, como nalguns exemplos então apresentados.

 

O rapaz, ao cruzar-se com a moça, atira-lhe algo assim: “Se me deixasses, havia de te fazer uma menina tão linda como tu”, ao que ela lhe responde: “Era preciso que tivesses pila para isso; outro, grosseirão, ao passar por uma de traseiro avantajado, não conseguiu melhor que isto: “Se tivesse um cu assim, nem precisava trabalhar”, ao que ela lhe respondeu à letra: Grande paneleiro!”.

 

Eu, que nunca tive lata para dizer na cara de uma desconhecida fosse o que fosse, ficava deliciado com o poder de engate de um rapaz do Porto, com quem trabalhei em Lisboa. De porte atlético, sempre impecável – gastava quanto ganhava em roupas – conseguia pôr  a cabecinha à roda a muitas raparigas, abordando-as sem abrir a boca. Na verdade, o galarau não fazia nada de especial: postava-se no passeio ao lado da miuda, acertava o passo com ela e, de vez em quando, dava uma olhadela de lado, com um sorriso malandro, para avaliar se ela o tinha notado, do que quase sempre resultava a moça não se aguentar, desatando a rir, e era o princípio de tudo...

 

 

Amândio G. Martins

5 comentários:

  1. O seu texto fez-me sorrir ao recordar um episódio " ao contrário". Tinha eu 12 anos, era baixinho e ambicionava andar sempre de calcas compridas. O meu Pai dizia, com alguma acidez, "pareces um anão". Com a cobertura da minha Mãe, um dia lá me "apinoquei" e sai, na Povoa de Varzim. Encontro, de frente, duas peixeiras " balzaquianas que, abrindo ala para eu passar no meio, emitiram aquele assobio admirativo tão característico de " mas que braza"! Corado, fui a casa, vesti os falcões e... esperei uns tempos até ser um homenzinho...

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  2. De facto, é bem pena que as senhoras andem daqui arredias; lá terão os seus motivos, mas lembro-me de textos seus muito bonitos, e a única poesia digna desse nome que por aqui passou até hoje - versejar não falta quem faça - foi uma senhora que nos deu o prazer de "saborear" - Graça Costa, se bem me lembro...

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