domingo, 27 de setembro de 2020

Poesia da boa

 

O Convertido

 

 

Entre os filhos dum século maldito

Tomei também o lugar na ímpia mesa,

Onde, sob o folgar, geme a tristeza

Duma ânsia impotente de infinito.

 

Como os outros, cuspi no altar avito

Um rir feito de fel e de impureza...

Mas, um dia, abalou-se-me a firmeza,

Deu-me rebate o coração contrito!

 

Erma, cheia de tédio e de quebranto,

Rompendo os diques ao represo pranto,

Virou-se para Deus minha alma triste!

 

Amortalhei na fé o pensamento,

E achei a paz na inércia e esquecimento...

Só me falta saber se Deus existe!

 

 

 

Antero de Quental, transcrito por

 

Amândio G. Martins

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