quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Velharias

 

Franco Nogueira...

 

 

Este homem esteve para Salazar como Gromiko para Brejnev e seus pares, e Labrov está hoje para Putin, com a diferença de que o “nosso” ministro dos Estrangeiros chegou a ter de enfrentar o mundo todo, por causa da guerra colonial; exilado após a Revolução democrática, abalançou-se a escrever uma biografia de Salazar, em três volumes, de que há pouco encontrei o primeiro -  numa feira de velharias que aqui se realiza uma vez por mês -  com o subtítulo “A mocidade e os princípios”.

 

Achei coisas interessantes acerca do ditador ainda em embrião, mas já dando sinais do que poderia vir a ser, como aquele de deixar sem resposta o padre Mateo - que, juntamente com o padre Cerejeira, fazia parte dos inseparáveis de Coimbra – quando Mateo lhe disse, afagando-lhe o rosto: “A mim não me enganas tu; por detrás dessa carinha de sonso desenvolve-se  um vulcão de ambições”, o que foi confirmado logo na tomada de posse como ministro das Finanças: “Sei muito bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em poucos meses. No mais, que o país estude, represente, reclame, discuta, mas que obedeça quando chegar a altura de mandar”.

 

Mas o que me despertou este texto foi que encontrei no meio do livro, bem dobradinhas, duas páginas da revista Opção, de 9 de março de 1977, com um Editorial do director, Artur Portela Filho, que começa assim: “Salazar”, do sr. Franco Nogueira, é um livro pequeno, de um homem pequeno, sobre um homem pequeno; o que não implica que não seja um livro manhoso, um livro que chega com pezinhos de lã, que ergue ao homem que destruíu a liberdade deste país e ia destruindo o carácter moral da nação um monumento”.

 

“Em primeiro lugar há que dizer, com clareza, três coisas: é falso que “Depois da Revolução do 25 de abril de 1974, se tenha gerado um clima de ódio contra a figura histórica e humana de Salazar”, e é falso que as nossas razões contra Salazar sejam “razões pessoais”, porque não há, contra Salazar, “razões pessoais”; há, sim, razões nacionais, morais, históricas, políticas; Salazar não era inimigo pessoal de ninguém, era inimigo do povo português”.

 

 

 

Amândio G. Martins

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