terça-feira, 29 de setembro de 2020

O papel da Europa

 Dos dinheiros que vêm da Europa e dos planos portugueses para os utilizar, já o jornal Público trouxe ontem um extenso "dossier", com valores, análises e papeis a desempenhar. Confesso que o li por obrigação cidadã pois aquilo era "tanto para isto, tanto para aquilo" e as obras "intencionais" eram tantas que, mesmo para um prosélito dos números... era uma "maçada". Mas vou guardar... 

Retive no entanto duas ou très coisas que me agradaram sobremaneira, por certo depreciadas pelos anti-europeus e pelos europeus "desconfiados". Que os prazos para aceitar os planos, bem como para os executar,  assim como a sua regulação, têm limites, que serão supervisionados pela UE. Bem como esta impor percentagens do dinheiro para duas áreas: digital e climática. Mormente a última e que é de 37%. A terceira já referi há dias, mas essa é da "nossa" responsabilidade: o portal a prestar contas, "minuto a minuto", da utilização do dinheirinho...

O resto é ser europeísta - porque europeu já sou - e gostar mais do cosmopolitismo humanista que do "leitinho das minhas vacas" que, "obviamente", é o melhor do mundo...

Fernando Cardoso Rodrigues

4 comentários:

  1. Não me acuse de “europeu desconfiado”, mas, conhecendo-se os mecanismos da UE, todos os cuidados são poucos. Veja que as famosas fortunas que nos foram destinadas como subvenções, aprovadas há tão pouco tempo, já levaram uma “bicada” de cerca de dois mil milhões de Euros. Em quinze, é muita coisa…
    E lembro que o plano total, o das subvenções e empréstimos, ainda não está garantido. Tenho a esperança de que o venha a ser, com mais ou menos “bicadas”, mas… ainda não está! Olhe, o Paulo Rangel (desta vez não me arrepio por lhe dar razão) fala disso no Público de hoje.
    Mas pode-se ser europeísta (sobretudo nos objectivos plasmados no papel), cosmopolita, não nacionalista, e, ao mesmo tempo, ser-se vigilante e cuidadoso? Criticar não é rejeitar.

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  2. O José surpreende-me! Antes de estar com a Europa... desconfia dela. E essa de criticar os "miseráveis" treze mil milhões de euros de subvenções porque prometeram quinze, deixe-me que lhe diga... Quanto aos empréstimos - e nisto tenho a vantagem de ter ouvido as notícias depois de ter escrito o seu texto - "descanse" porque... foi o próprio António Costa que já disse que não se ia socorrer deles, evitando assim mais "uma falta á palavra dada" por parte da UE...
    Guardo para o fim a sua lembrança de que não devemos "contar com o ovo no cu da galinha". Paulo Rangel (PR) também o fez em meia dúzia de linhas iniciais, dedicando todas as muitas outras ao seu "desporto favorito": zurzir António Costa, com e sem razão. E não deixa de ser "curioso" ele dizer que o primeiro ministro quer é "engordar" o Estado, quando ele quer -como é sabido - é "engordar" outra gente. E também "curiosíssimo" é ter falado, pelo menos duas vezes, das "vagas intenções" (sic) do documento quando este - e já o disse no meu texto seminal - se peca é por ser exustivo quase ao "tostão". PR é um federalista assumido, mas pelo lado diverso do meu que, também o sendo, sou social-democrata e não ultraliberal como ele. Mas também é assim que a Europa vale e se controi, não é? E se eu quisesse um companheiro para o meu europeísmo federalista, escolheria antes o Viriato Soromenho Marques.

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    1. Perdoe-me aqui voltar mas esqueci-me de falar do eventual chumbo ao plano de reuperação europeu porque a Hungria ou a Polónia se poderão opor. Também sabemos das intenções da UE em exigir o Estado de Direito aos seus membros e, também há momentos, em Lisboa, ouvi a senhora Ursula von der Leyen dizer que há que mudar o preceito da unanimidade para o da maioria qualificada, em assuntos como este. Para evitar chantagens ( isto é meu) de "Erdogans". Mais uma coisa que me agrada.

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  3. A ideia de Europa unida, ainda (e sempre?) uma utopia, colhe o meu maior entusiasmo. Não acontece o mesmo quando analiso o comportamento de alguns que nela (e em nós) mandam. Já considerar que existem as condições para que uma parte da Europa se constitua em união política plena pode ser arrojado de mais e conduzir a graves erros. Continuo a pensar que o processo de integração europeia, pelo menos nos últimos 35 anos, foi artificialmente conseguido. Eu preferiria um caminho de integração naturalmente evolutivo, sem queimar etapas, é certo que mais lento, mas, seguramente, mais consolidado.
    Por outro lado, confesso que desconfio. É ou não verdade que o projecto de União Europeia, no seu início, tendia a que se nivelassem as condições de vida de todos os europeus, “puxando” para cima as economias mais frágeis? Com a criação do Euro, a ideia que nos venderam foi a mesma. O que é que aconteceu, brutalmente precipitado com as crises, a das dívidas soberanas, e, agora, a da pandemia, ainda em nascença? Exactamente o contrário. O fosso, também aqui, entre os países ricos e os pobres alargou-se, com os mais fortes a empanturrarem-se desbragadamente de juros que os mais débeis têm de pagar. E quem é que se aproveita, “à grande e à francesa”, da posição cambial do Euro, que não os alemães?
    Bem, 2 em 15 (aprovados, não prometidos) é um corte de mais de 13%. Se acha desprezível… É a velha história do copo meio cheio, mas basta imaginar o que não diríamos se nos cortassem 13% do rendimento.
    Também já ouvi falar das intenções de Costa não recorrer aos tais empréstimos. Ora, com taxas de juro bem bonificadas, não percebo muito bem… Mas ele sabe, com toda a certeza, muito mais do que eu. Só que se sente no ar como que um bafiozinho a salazarismo, orgulhoso de um país que não devia nada a ninguém. Pois claro: se também não tinha nada senão miséria…
    Quanto ao Paulo Rangel, concordo em absoluto com tudo o que o Fernando diz. Só lhe dei (a ele) a confiança de concordar com a tal referência à falta de garantia para o plano de recuperação. Mas olhe que o perigo pode vir não só da Hungria ou da Polónia. “Aquilo” tem muitos crivos por onde passar, não só nacionais, alguns são mesmo meramente regionais.
    E a maioria qualificada parece-me ser curial. Exigir unanimidades abre a porta, como diz, e bem, a processos chantagistas.
    Só para terminar, devo dizer-lhe que tenho uma enorme admiração pelo Viriato Soromenho Marques. Não sou federalista, mas concordo com muito do que ele diz e faz. Cada vez mais se torna evidente que isso do federalismo é como tudo, há o seu e o do Viriato, mas também há o do Rangel e outros que tais por essa Europa fora. E o de alguns deles é de fugir.

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