segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Deixem a sardinha em paz

Ainda não percebi se a sardinha se quer miúda, miúdinha, até que desapareça de uma vez por todas. Há por aí adeptos de que se deve pescar e comer sardinha até à última escama e espinha. Estou sem saber quem é mais prudente e inteligente nesta faina de teimosia. Se aqueles que a querem devorar até que não haja mais para ninguém, ou se aqueles que apoiados no saber, pescado no estudo da matéria, a querem manter, conservar e aumentar a espécie da "família dos clupeídeos" destinados à brasa e aos apetites dos esfomeados, que há uns anos a rejeitavam por tão mal cheirosa, achando-a hoje um "petisco" que faz a festa encher-se de balões e até deitar foguetes. Alimento considerado dos pobres de fato-macaco há uns anos, e que hoje veste fato e gravata ou polo com crocodilo. A avaliar pelos insaciáveis inconscientes deve-se pescar a sardinha até as redes rebentarem pelas costuras, e na faina seguinte permitir-se aos pescadores que saltem  vivinhos do mar para terra a manifestarem-se por não haver mais no "berço ou na ma(r)ternidade" aonde ela se reproduz e cresce até poder chegar à mesa sem precisar de ajuda. É verdade que o ditado "cada qual puxa a brasa à sua sardinha" só é possível também se na festa de amanhã, vai continuar a haver sardinha deste mar e daquele para a boca dos portugueses ou se só teremos o pão nas mãos a abanar com as espinhas que o gato rejeitou. Deixem a sardinha em paz para que amanhã os pescadores tenham pão com ela a pingar, e os portugueses se lambuzem à luz dos lampiões, dos arcos, foguetes e balões, e passem a cheirar melhor este assunto para que se faça sempre arraial.

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