Ainda não percebi se a sardinha se quer miúda, miúdinha, até que
desapareça de uma vez por todas. Há por aí adeptos de que se deve pescar e
comer sardinha até à última escama e espinha. Estou sem saber quem é mais
prudente e inteligente nesta faina de teimosia. Se aqueles que a querem devorar
até que não haja mais para ninguém, ou se aqueles que apoiados no saber,
pescado no estudo da matéria, a querem manter, conservar e aumentar a espécie
da "família dos clupeídeos" destinados à brasa e aos apetites dos
esfomeados, que há uns anos a rejeitavam por tão mal cheirosa, achando-a hoje
um "petisco" que faz a festa encher-se de balões e até deitar
foguetes. Alimento considerado dos pobres de fato-macaco há uns anos, e que
hoje veste fato e gravata ou polo com crocodilo. A avaliar pelos insaciáveis
inconscientes deve-se pescar a sardinha até as redes rebentarem pelas costuras,
e na faina seguinte permitir-se aos pescadores que saltem vivinhos do mar para terra a manifestarem-se
por não haver mais no "berço ou na ma(r)ternidade" aonde ela se
reproduz e cresce até poder chegar à mesa sem precisar de ajuda. É verdade que o
ditado "cada qual puxa a brasa à sua sardinha" só é possível também
se na festa de amanhã, vai continuar a haver sardinha deste mar e daquele para
a boca dos portugueses ou se só teremos o pão nas mãos a abanar com as espinhas
que o gato rejeitou. Deixem a sardinha em paz para que amanhã os pescadores
tenham pão com ela a pingar, e os portugueses se lambuzem à luz dos lampiões,
dos arcos, foguetes e balões, e passem a cheirar melhor este assunto para que
se faça sempre arraial.
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