quarta-feira, 2 de setembro de 2015

ETERNA POESIA

       ILUSÃO PERDIDA

Doce ilusão que foges perseguida
Como gazela tímida e medrosa,
Ou como núvem pelo céu batida
Ao sopro de uma aragem silenciosa:

Levas contigo, ó pomba gloriosa!
A esvoaçar em busca de guarida,
O meu amor, a desmaiada rosa!
Levas contigo o coração e a vida.

E nunca mais, no exílio onde agonizo,
A melindrosa flor do teu sorriso
Há-de ostentar as pétalas vermelhas…

Mas na estância feliz que eu não devasso,
Encontrarás meus beijos, pelo espaço
Em busca de teus lábios, como abelhas.







                ROSA BRANCA

Sonho ou quimera, na ilusão divina
Que ao mundo alado o coração transporta,
Aquela rosa pálida e franzina,
Branca, tão branca, parecia morta…

Planta que o frio da existência inclina,
Pomba que foge ao seu país…Que importa?
Sonho ou quimera, na ilusão divina,
Branca, tão branca, parecia morta…

Mesmo acordado ou vendo-a com tristeza
Nas molduras do sonho e da incerteza,
Que a fantasia em pleno azul recorta,

Sempre na imensa dor que me fulmina,
Aquela rosa pálida e franzina,
Branca, tão branca, parecia morta…






        PÁLIDA E LOIRA

Morreu.Deitada no caixão estreito,
Pálida e loira, muito loira e fria,
O seu lábio tristíssimo sorria
Como um sonho virginal desfeito.

-Lírio que murcha ao despontar do dia,
Foi descansar no derradeiro leito,
As mãos de neve erguidas sobre o peito,
Pálida e loira, muito loira e fria…

Tinha a cor da rainha das baladas
E das monjas antigas maceradas,
No pequenino esquife em que dormia…

Levou-a a morte em sua garra adunca!
E eu nunca mais pude esquecê-la, nunca!
Pálida e loira, muito loira e fria…

Nota – Poemas de António Feijó – Ponte de Lima, 1859 – Estocolmo,1917.

Transcritos por Amândio G. Martins.

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