“A POLÍTICA SEMPRE FOI UM
NEGÓCIO SUJO”
Quem a
conhece diz que a Baronesa Margaret Thatcher não dá entrevistas – dá
espectáculo. Desempenha um papel. Cheia de certezas, sempre de costas muito
direitas, inclina a cabeça e faz meios sorrisos que podem ser interpretados
como condescendentes ou encorajadores , dependendo mais da disposição de quem
os recebe, do que de quem os dá.
E diz:
“Então, quer qualquer coisa que não venha no livro”?, referindo-se à sua
autobiografia “Os Anos de Downing Street”, editada em Portugal pela Bertrand e
que foi, a nível mundial, a autobiografia que mais vendeu. Respondeu que não é
bem assim, mas o que é que se há-de fazer porque estou proibido de discutir com
ela os anos em que foi primeiro-ministro, porque isso quebraria o seu contrato
de quatro milhões de libras feito com a editora.”Vamos deixar a conversa correr
para onde for correndo?” – sugiro.
Tem resposta
para tudo, até para perguntas que não foram feitas. Admirada e desprezada em
igual medida, divide as opiniões, mas o seu lugar como uma das figuras
políticas do século está assegurado. Na mesa ao lado da sua secretária está um
globo do Mundo, lembrando metaforicamente o papel que ela ocupa, ou ocupou,
nele. A sua autobiografia foi tão falada que é difícil não sentirmos que, de
certa maneira, continuamos a contribuir para que se fale no assunto. Mas enfim,
alegremo-nos, e vamos lá perguntar se se divertiu a fazer uma série – em quatro
partes – que foi um dos grandes sucessos da BBC1.
“A televisão
sempre me pôs nervosa. Nunca me consegui ver a mim própria. Não aguentava.
Sempre que aparecia nos telejornais pedia ao meu marido para desligar. Na vida
real temos três dimensões, num ecrã plano tudo se modifica. A câmara assusta e
as palavras não saem com a mesma facilidade. Nunca consegui ser artificial”.
Seja como
for, era especialista em controlar mesmo o mais persistente dos
entrevistadores. Também não consegue disfarçar a raiva que ainda sente dos seus
colegas políticos que à sua frente faziam vénias mas que acabaram por traí-la.
“A política sempre foi um negócio sujo. Se nos colocamos na linha da frente não
podemos ficar admirados quando disparam contra nós. Mas eu fui o
primeiro-ministro com mais tempo de serviço e com grande reconhecimento universal,
e isso já é qualquer coisa, não é?”
Sente que
provavelmente não estão na política as pessoas certas: “É pena que se faça
carreira da política. Quando entrei para o Parlamento havia uma grande
veriedade, com experiências pessoais e profissionais muito diferentes. Agora é
tudo muito igual. Deveríamos encorajar gente mais experiente a dar o seu
contributo”.
NOTA – Este
texto é do jornalista inglês Andrew Duncan, da Rádio Times, e foi transcrito
por Amândio G. Martins
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