quarta-feira, 9 de setembro de 2015

NEGÓCIO SUJO

                  “A POLÍTICA SEMPRE FOI UM NEGÓCIO SUJO”

Quem a conhece diz que a Baronesa Margaret Thatcher não dá entrevistas – dá espectáculo. Desempenha um papel. Cheia de certezas, sempre de costas muito direitas, inclina a cabeça e faz meios sorrisos que podem ser interpretados como condescendentes ou encorajadores , dependendo mais da disposição de quem os recebe, do que de quem os dá.
E diz: “Então, quer qualquer coisa que não venha no livro”?, referindo-se à sua autobiografia “Os Anos de Downing Street”, editada em Portugal pela Bertrand e que foi, a nível mundial, a autobiografia que mais vendeu. Respondeu que não é bem assim, mas o que é que se há-de fazer porque estou proibido de discutir com ela os anos em que foi primeiro-ministro, porque isso quebraria o seu contrato de quatro milhões de libras feito com a editora.”Vamos deixar a conversa correr para onde for correndo?” – sugiro.
Tem resposta para tudo, até para perguntas que não foram feitas. Admirada e desprezada em igual medida, divide as opiniões, mas o seu lugar como uma das figuras políticas do século está assegurado. Na mesa ao lado da sua secretária está um globo do Mundo, lembrando metaforicamente o papel que ela ocupa, ou ocupou, nele. A sua autobiografia foi tão falada que é difícil não sentirmos que, de certa maneira, continuamos a contribuir para que se fale no assunto. Mas enfim, alegremo-nos, e vamos lá perguntar se se divertiu a fazer uma série – em quatro partes – que foi um dos grandes sucessos da BBC1.
“A televisão sempre me pôs nervosa. Nunca me consegui ver a mim própria. Não aguentava. Sempre que aparecia nos telejornais pedia ao meu marido para desligar. Na vida real temos três dimensões, num ecrã plano tudo se modifica. A câmara assusta e as palavras não saem com a mesma facilidade. Nunca consegui ser artificial”.
Seja como for, era especialista em controlar mesmo o mais persistente dos entrevistadores. Também não consegue disfarçar a raiva que ainda sente dos seus colegas políticos que à sua frente faziam vénias mas que acabaram por traí-la. “A política sempre foi um negócio sujo. Se nos colocamos na linha da frente não podemos ficar admirados quando disparam contra nós. Mas eu fui o primeiro-ministro com mais tempo de serviço e com grande reconhecimento universal, e isso já é qualquer coisa, não é?”
Sente que provavelmente não estão na política as pessoas certas: “É pena que se faça carreira da política. Quando entrei para o Parlamento havia uma grande veriedade, com experiências pessoais e profissionais muito diferentes. Agora é tudo muito igual. Deveríamos encorajar gente mais experiente a dar o seu contributo”.
NOTA – Este texto é do jornalista inglês Andrew Duncan, da Rádio Times, e foi transcrito por Amândio G. Martins


Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.