TENTAÇÃO DO
PODER
O caso não é
para menos: Nunca dê confiança, fuja a
sete léguas, do presumido conhecimento daqueles que só pensam no poder. Neles a
ignorância e a má criação são sempre arrogantes e, por mais transparente que
seja a sua boa vontade, serão sempre mal agradecidos, porque têm o coração
corrompido pelo egoísmo.
São ciumentos
e invejosos. Não sabem partilhar responsabilidades porque apenas querem mandar,
por mais pequeno que seja o poder da sua mesquinhêz e efémero o seu reinado.
Quem não sabe escutar, não pode falar com a esperança de ser ouvido, porque,
mesmo quando fala, é só para se ouvir e não para se fazer ouvir.
Quem julga
ter o monopólio da verdade e pensa, por isso, que não tem nada a aprender, nada
a discernir melhor, nada a corrigir, é porque está perto da psicose – uma pseudo-inocência,
perigosa para si mesmo, antes de ser para os outros sobre quem, provavelmente,
tentará descarregar a própria perturbação.
Será sempre
uma transferência patológica, com a ilusão da infantilidade. Sempre que uma
pessoa ou um grupo se arrogam o monopólio de julgar os outros, sem se sentirem,
em consciência, na obrigação de acompanhar e compreender quem pensa
diferentemente, então cedem facilmente a relações patológicas.
É bom de ver:
quem perde o sentido da auto-crítica não tem o direito de criticar quem quer
que seja. A vida reserva-nos, frequentemente, a surpresa de pessoas seduzidas
pelo poder que fazem da autoridade um pretexto para o autoritarismo,
incomodando tudo e todos, até se darem conta que os prejudicados são sempre, e
só, eles próprios, quando teimam ser mandões.
É, afinal, a
triste sina de quem faz da arrogância uma permanente compensação das próprias
fragilidades. A arrogância incomoda muita gente. Que o digam as esposas de
maridos caprichosos e machistas, ou os funcionários sujeitos ao servilismo
bajulador, ou os simpatizantes e militantes dóceis de partidos castradores que
acenam com prebendas para pagar votos e aplausos aos presumidos carismas dos
chefes, ou os leigos cristãos forçados à obediência pelas prepotências
clericais.E a estes, coitados, não só lhes negam a voz e a vez como ainda os
seduzem para pagar as despesas do culto sob a miragem da recompensa divina. Não
esqueça o conselho: fuja da ignorância e da má criação dos que só pensam em
mandar, sem partilha de responsabilidades, negadores da solidariedade e
incapazes da amizade. São uns ingratos e, se lhes der confiança, abusam de si
na primeira oportunidade.
Diante de
quem quer que seja mantenha-se sempre de pé e não consinta em servilismos. A
solidariedade faz-se de igual para igual, na diversidade das competências, dos
gostos e dos estilos. Resista, por favor, à tentação do poder.
NOTA – Este texto
é do rev. cónego Rui Osório e foi publicado no JN, onde foi jornalista e chefe
de redacção.
Transcrito por Amândio G. Martins
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