sexta-feira, 4 de setembro de 2015

PODER

                                  TENTAÇÃO DO PODER
O caso não é para menos:  Nunca dê confiança, fuja a sete léguas, do presumido conhecimento daqueles que só pensam no poder. Neles a ignorância e a má criação são sempre arrogantes e, por mais transparente que seja a sua boa vontade, serão sempre mal agradecidos, porque têm o coração corrompido pelo egoísmo.
São ciumentos e invejosos. Não sabem partilhar responsabilidades porque apenas querem mandar, por mais pequeno que seja o poder da sua mesquinhêz e efémero o seu reinado. Quem não sabe escutar, não pode falar com a esperança de ser ouvido, porque, mesmo quando fala, é só para se ouvir e não para se fazer ouvir.
Quem julga ter o monopólio da verdade e pensa, por isso, que não tem nada a aprender, nada a discernir melhor, nada a corrigir, é porque está perto da psicose – uma pseudo-inocência, perigosa para si mesmo, antes de ser para os outros sobre quem, provavelmente, tentará descarregar a própria perturbação.
Será sempre uma transferência patológica, com a ilusão da infantilidade. Sempre que uma pessoa ou um grupo se arrogam o monopólio de julgar os outros, sem se sentirem, em consciência, na obrigação de acompanhar e compreender quem pensa diferentemente, então cedem facilmente a relações patológicas.
É bom de ver: quem perde o sentido da auto-crítica não tem o direito de criticar quem quer que seja. A vida reserva-nos, frequentemente, a surpresa de pessoas seduzidas pelo poder que fazem da autoridade um pretexto para o autoritarismo, incomodando tudo e todos, até se darem conta que os prejudicados são sempre, e só, eles próprios, quando teimam ser mandões.
É, afinal, a triste sina de quem faz da arrogância uma permanente compensação das próprias fragilidades. A arrogância incomoda muita gente. Que o digam as esposas de maridos caprichosos e machistas, ou os funcionários sujeitos ao servilismo bajulador, ou os simpatizantes e militantes dóceis de partidos castradores que acenam com prebendas para pagar votos e aplausos aos presumidos carismas dos chefes, ou os leigos cristãos forçados à obediência pelas prepotências clericais.E a estes, coitados, não só lhes negam a voz e a vez como ainda os seduzem para pagar as despesas do culto sob a miragem da recompensa divina. Não esqueça o conselho: fuja da ignorância e da má criação dos que só pensam em mandar, sem partilha de responsabilidades, negadores da solidariedade e incapazes da amizade. São uns ingratos e, se lhes der confiança, abusam de si na primeira oportunidade.
Diante de quem quer que seja mantenha-se sempre de pé e não consinta em servilismos. A solidariedade faz-se de igual para igual, na diversidade das competências, dos gostos e dos estilos. Resista, por favor, à tentação do poder.
NOTA – Este texto é do rev. cónego Rui Osório e foi publicado no JN, onde foi jornalista e chefe de redacção.
 Transcrito por Amândio G. Martins





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