OS CANDIDATOS
QUE VOCÊ PAGA
Fazendo um
primeiro apanhado, o”Independente” revelou, na semana passada, uma longa lista
de candidatos autárquicos do PSD que se
distinguem por ser gestores públicos, administradores públicos, altos funcionários, assessores, adjuntos ou
outros cargos de menor interesse público.
Em Lisboa, até
dá vontade de rir. O presidente da Enatur foi destacado para dar combate na
Amadora; presume-se que o candidato faça turismo nas eleições. Por sua vez,
depois de mil e uma atribulações, um anónimo administrador da Tabaqueira foi
encarregue de Cascais. É de presumir que saiba ganhar votos como vende
cigarros. Ao povo de Loures calhou em sorte o presidente do INEM – uma emergência
médica que os locais agradecem.
Saindo da
capital, e nem sequer contando com os deputados que agora se atiram às Câmaras,
verifica-se que ministérios como o da Saúde, do Emprego e das Finanças, são autênticos
vespeiros de candidatos. É vê-los: de Macedo de Cavaleiros a Portimão, de
Miranda do Douro a Vila Real de Santo António, de Bragança a Évora, de Matosinhos
a Santo Tirso, de Paredes a Serpa, só para dar alguns exemplos, vai por aí um
corropio de administradores de hospitais do Estado, de directores de centros de
saúde, de gestores regionais da Segurança Social e da Saúde, de chefes de
Finanças e dos mais variados gestores públicos, todos à procura de votos.
A estatização
dos candidatos do PSD é reveladora. É preciso notar o peso do fenómeno. No lote
dos novos candidatos que o PSD já confirmou, este género de pessoas,
dependentes do partido para chegarem ao Estado e do Estado para chegarem às Câmaras,
representa entre um terço e um quarto dos cabeças de lista. Isto significa uma
tendência de burocratização do PSD, cada vez mais incapaz de procurar na parte
activa da sociedade os seus eleitos..
É então
necessário fazer algumas perguntas. O que é que une todos estes candidatos? O mesmo
patrão, claro. Este patrão é o ministro da tutela. São estes candidatos livres
de dizer não? É duvidoso. Em teoria, até um prisioneiro pode ser um homem
livre; mas a verdade é que a dependência funcional, financeira e administrativa
em relação ao poder político limita a liberdade individual no momento de fazer
uma escolha. E, por fim, quem paga a campanha destes candidatos? Em boa parte,
o contribuinte. É que o trabalho público que deixam necessariamente de fazer
também tem um custo; e a remuneração que podem continuar a receber, paga pelo
orçamento do Estado, implica uma vantagem comparativa sobre os outros
candidatos. Já não falando, evidentemente, na clara suspeita de parcialidade a
que ficam sujeitos os organismos do Estado dirigidos por tão corajosos
candidatos.
NOTA – Este texto
foi escrito pelo jornalista Paulo Portas, no tempo em que era “Independente” e
governava o país Cavaco Silva…
Transcrito
por Amândio G. Martins
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