sexta-feira, 4 de setembro de 2015

CLARO QUE AGORA JÁ NÃO É ASSIM...

                               OS CANDIDATOS QUE VOCÊ PAGA
Fazendo um primeiro apanhado, o”Independente” revelou, na semana passada, uma longa lista de candidatos  autárquicos do PSD que se distinguem por ser gestores públicos, administradores públicos,  altos funcionários, assessores, adjuntos ou outros cargos de menor interesse público.
Em Lisboa, até dá vontade de rir. O presidente da Enatur foi destacado para dar combate na Amadora; presume-se que o candidato faça turismo nas eleições. Por sua vez, depois de mil e uma atribulações, um anónimo administrador da Tabaqueira foi encarregue de Cascais. É de presumir que saiba ganhar votos como vende cigarros. Ao povo de Loures calhou em sorte o presidente do INEM – uma emergência médica que os locais agradecem.
Saindo da capital, e nem sequer contando com os deputados que agora se atiram às Câmaras, verifica-se que ministérios como o da Saúde, do Emprego e das Finanças, são autênticos vespeiros de candidatos. É vê-los: de Macedo de Cavaleiros a Portimão, de Miranda do Douro a Vila Real de Santo António, de Bragança a Évora, de Matosinhos a Santo Tirso, de Paredes a Serpa, só para dar alguns exemplos, vai por aí um corropio de administradores de hospitais do Estado, de directores de centros de saúde, de gestores regionais da Segurança Social e da Saúde, de chefes de Finanças e dos mais variados gestores públicos, todos à procura de votos.
A estatização dos candidatos do PSD é reveladora. É preciso notar o peso do fenómeno. No lote dos novos candidatos que o PSD já confirmou, este género de pessoas, dependentes do partido para chegarem ao Estado e do Estado para chegarem às Câmaras, representa entre um terço e um quarto dos cabeças de lista. Isto significa uma tendência de burocratização do PSD, cada vez mais incapaz de procurar na parte activa da sociedade os seus eleitos..
É então necessário fazer algumas perguntas. O que é que une todos estes candidatos? O mesmo patrão, claro. Este patrão é o ministro da tutela. São estes candidatos livres de dizer não? É duvidoso. Em teoria, até um prisioneiro pode ser um homem livre; mas a verdade é que a dependência funcional, financeira e administrativa em relação ao poder político limita a liberdade individual no momento de fazer uma escolha. E, por fim, quem paga a campanha destes candidatos? Em boa parte, o contribuinte. É que o trabalho público que deixam necessariamente de fazer também tem um custo; e a remuneração que podem continuar a receber, paga pelo orçamento do Estado, implica uma vantagem comparativa sobre os outros candidatos. Já não falando, evidentemente, na clara suspeita de parcialidade a que ficam sujeitos os organismos do Estado dirigidos por tão corajosos candidatos.
NOTA – Este texto foi escrito pelo jornalista Paulo Portas, no tempo em que era “Independente” e governava o país Cavaco Silva…

Transcrito por Amândio G. Martins


Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.