Portugal tem admiráveis homens de
letras, mas desse respeitável rol, neste momento, pretendo destacar e trazer
como mensagem, dois nomes inultrapassáveis, que qualquer literatura mundial
teria orgulho em cultivar; Fernando Pessoa e Miguel Torga.
Se houvesse um cuidado em
aprofundar o pensamento destes homens, – valores pátrios de imensidade
universal -, em cada universidade portuguesa, e até em cursos diferentes, devia
haver cadeiras para os estudar e aprofundar a obra e o pensamento destes colossos
da literatura, da filosofia, da psicologia, da sociologia, da antropologia e de
tudo a que ao homem diz respeito. Infelizmente, neste, como noutros campos, é a
negligência que se vê.
Deixo pelo caminho esse
enigmático e genial Fernando Pessoa e, atrevo-me a trazer a terreiro, porque
vem a propósito, o lúcido e inesquecível Miguel Torga, lembrando os seus contos
onde os principais actores são os bichos, tratados como se pessoas fossem, onde
o autor lhes dá papel equiparado a seres humanos. Em Portugal e noutras partes
do mundo, muitas pessoas estão a ser tratadas abaixo dos ditos seres
irracionais e a indiferença é dominante.
Os senhores que têm o poder e a
capacidade de decisão, em alguns países e nos areópagos que os tutelam, que
vomitam leis e directivas para as comunidades que os sustentam, não produzindo
um avo de riqueza tangível, vivendo num mundo que julgam isolado do restante, decidiram
ter, para si, rendimentos assegurados a um nível escandalosamente superior ao
que entendem ser suficiente para outros cidadãos, considerados, neste caso, como
inferiores. Isto é confrangedor e repugnante e terá, a mais curto ou longo
prazo, as inevitáveis consequências.
Que haja uma parte, já muito
significativa, da população mundial e de alguns países europeus que passe fome,
que não tenha habitação condigna, nem assistência médica, pouco comove alguns
governantes das nações tal como os eurocratas detentores do poder. Eles têm um
estilo de vida, que comparado à maioria dos governados, é quase ofensivo. A
insensibilidade reinante, dominada pelos mercados, está a tornar insuportável a
convivência entre os povos.
Um corrupio de má administração
atravessou a vida de alguns países europeus menos preparados e criaram-se
situações de dívidas, sejam elas do Estado ou dos privados, impossíveis de
liquidar na forma contratual em que foram geradas. Estes contratos têm credores
e devedores e as responsabilidades não podem ser apenas de uma parte. É verdade
que há dívidas contraídas, num esquema de quase insanidade mental, pois quem as
contraiu, devido às Leis que vigoram, não tem obrigação nem capacidade de
pagá-las. E os outros, que não as fizeram? Esses têm mesmo que as liquidar, nem
que rastejem? Tem de haver o meio-termo. A responsabilidade é concomitante de
ambas as partes; credores e devedores. Por isso, racionalmente entendam-se e
temperem os novos acordos com respeito e honestidade.
Na verdade, os papéis confundem-se.
Os políticos poderosos, que criaram aparelhos onde só eles e seus apaniguados entram,
tratam os outros, especialmente os pobres, como bichos, contrariando a mensagem
de Miguel Torga, que atribuía aos bichos uma relação humana.
2.02.2015 - Joaquim Carreira Tapadinhas - Montijo
Caro Amigo, apresentou-nos um texto muito lúcido,acerca do gabarito intelectual e honrado dos dois vultos que fez menção de indicar.
ResponderEliminarConheço os dois, mas o meu caro amigo melhor que eu.
Um abraço honrado e patriótico.
Caro Joaquim,
ResponderEliminarGostei muito do seu texto. Repito "lúcido" e acrescento "actual"
Abraço.
Caro Joaquim,
ResponderEliminarGostei muito do seu texto. Repito "lúcido" e acrescento "actual"
Abraço.
Caro Joaquim,
ResponderEliminarQuem tem o verdadeiro poder são os bancos, os mercados e as agências financeiras. Nestes ninguém vota; não precisam do voto e não lhes interessa o bem estar dos povos. E quem tem este poder tem todo o poder. E se todo o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente.
Abraço.
Caro Afonso
ResponderEliminarÉ verdade que são os bancos, os mercados e as agências financeiras que detêm o poder. Contudo esse poder é legitimado pelas leis que são propostas e aprovadas pelos políticos. Logo, se as leis fossem diferentes, tudo seria diferente. Mas como os políticos se deixam corromper chegámos ao estado actual da economia. Um abraço lusitano
Publicado, hoje no Expresso, ainda que com um extenso corte na parte final. Como de costume, foi enviado a outros jornais (DN, Público e Sol), que até hoje não publicaram.
ResponderEliminarPublicado hoje no PÚBLICO!
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