terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

em O LIVRO EM BRANCO (datado de 1988) - páginas 65 e 66

Etapa longa

A vida mutila as pessoas
Faz perder-lhes a juventude
Esculpe-lhes rostos de vidro
Transforma-as sem quietude.

Tudo passa nesta vida
Para alguns tão facilmente
Mas p’ra outros só tristezas
Desfilam constantemente.

E assim andamos todos
Uns por cima outros por baixo
Por mais voltas que isto dê
Nem todos saem debaixo.

Para uns será tormenta
Para outros a bonança
Será p’ra uns só luar
E p´ra outros abastança.

Enquanto uns têm tudo
E lubrificada pança
Outros são uns lazarentos
Não vislumbrando mudança.



Mesmo assim, vivo

No nascer e no morrer
O acto em si é igual,
Mas durante o viver
Muita coisa é desigual.

Uns com tudo, outros com nada,
Vida ingrata – vida bela,
Vidas de entaladela,
Outros com vida de fada.

Também não tive bafejos,
Labutei – senti o travo
Do pão qu’amassou o diabo
E, por isso, vivo sem festejos.


José Amaral

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.