Faz agora 41 anos,
estava ansioso por uma mudança de regime. Avesso a militâncias partidárias,
pois sempre gostei pouco de ler "cartilhas", rejubilei com o 25A, com
a emergência de partidos e com as indispensáveis eleições "a sério", pois
as de Salazar-Caetano, não contaram. Em 1975, com o gonçalvismo, comecei a
refrear entusiasmos, constatei que havia muitos que enchendo a boca de
democracia, queriam uma nova ditadura de "operariado". Com o 25Nov, e
finalmente a Constituição de 76, entrámos na chamada normalidade democrática. O
País desenvolveu-se, aproveitando os fundos da CEE-UE, sobretudo as regiões do
interior, em que a gestão autárquica, completamente renovada, fez obra. Claro
que houve abusos, corrupção e despesismo, mas isso acontece com o género humano,
sobretudo o latino. As novas tecnologias têm contribuído muito para aproximar o
cidadão da Administração, mas se a ditadura continuasse, esse progresso também
viria certamente. Para ser breve, em todos os outros sectores da vida dos
cidadãos e empresas, não consigo registar grandes progressos, antes pelo
contrário. A Justiça é uma vergonha nacional. A Educação tem sido um fartar de
experimentalismos, com os doutores das Ciências da Educação a alterar em cada
ano matérias, livros e avaliações. Os professores são desprezados, insultados,
e até agredidos. Ninguém se impõe para os defender e reestabelecer a autoridade
que é indispensável ao seu magistério. A FENPROF ainda não deu a oportunidade a
um único ministro de fazer obra, tenta destruir todos os ministérios, para no
meio do caos que existe, poder fazer valer a sua própria agenda. Autoridade
democrática, que se esperava poder substituir a autocrática de Salazar, é coisa
que nunca existiu depois do 25A. Nem os professores, nem os Juízes, nem sequer
as forças da ordem ou militares a possuem. Pouco falta para cairmos na mais
absoluta irresponsabilidade, em que só os "chicos-espertos" triunfam,
numa quase anarquia. Em conclusão, não vivemos numa democracia, mas numa
"partidocracia", em que tudo é feito a favor dos partidos, das suas
poderosas máquinas de propaganda e das suas formidáveis clientelas, que sugam o
pouco que temos financiado por uma insustentável dívida pública, que vamos
alegremente empurrando com a barriga. Já não somos joguete de um só homem e de
um único partido, mas somos dominados por uma partidocracia, que impõe a sua
vontade a todos, suportada por um sufrágio cada vez menos representativo. Se
valeu a pena ou não o 25A, é uma reflexão para a consciência de cada um,
designadamente para os que viveram antes e aguentaram estes 41 anos.
É lamentável que assim seja, mas, o escreveu, corresponde ao "estado de sítio" deste país. Para piorar ainda mais, está na forja uma proposta de projecto de censura prévia, para controlo da cobertura jornalística dos actos eleitorais, assinada pelos partidos do sistema, PPD/PSD, CDS/PP e PS. Não há dinheiro e não há vergonha.
ResponderEliminarCaro Joaquim, ainda bem que a tal proposta já foi retirada. Foi uma coisa verdadeiramente imbecil, digna de Salazar. Agora está na moda criticar Cavaco Silva. No entanto este seu último discurso ontem, tocou os principais problemas da nossa sociedade. Eu nunca gostei muito, diria melhor, confiei muito nele, desde que foi Assistente da minha Faculdade. Votei no entanto em quase todas as eleições em que se apresentou. Nunca porque fosse o meu ideal, ou que me convencesse a 100%. Mas pela importante razão que ERA O MENOS MAU! Com isto, está definida a qualidade dos "jotas" que nos têm governado na última década (Sócrates e Passos).
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