O ainda presidente da República discursou pela última vez na dita
Assembleia dos cravos e dos floreados da retórica e da demagogia. Graças a
Deus, para os crentes, vivas ao 25 de abril para os que assentam os pés no
chão. O homem que nunca se engana e raramente tem dúvidas vai de malas aviadas
dentro de pouco tempo. Levará com ele a "riqueza lexical" que debitou
ao longo do negativo mandato que lhe foi emprestado, e ao fim de muitos anos de
governação que lhe foi permitido. O homem que nunca foi consensual, que se
tornou irritante, a roçar o detestável até, como comprovam todos os
indicadores, deu uma imagem durante as suas intervenções de máximo divisor
comum e nunca daquilo que julgou poder conseguir - ser o homem capaz de fazer
consensos entre a Sociedade civil e os partidos com assento na Assembleia da
República. O homem que presidiu por mais tempo ao destino do país, nunca foi um
elemento causador de unidade, nem pela palavra nem pelos actos, e nestes, até
por alguns está “condenado” vá ele gozar a reforma para onde for. De discursos
trapalhões, pouco claros, e de sonorização ruidosa e só aceite pelos seus
pares, que tanto o aplaudiam como logo se atiravam ao molhe àquele molho de
palavras ocas, falasse ele em azeite ou em vinagre. Sensaborão sempre. Nada
deixará para mais tarde recordar se não a sua pouca habilidade para dirigir um
povo como para encantar com a sua dicção e poder de disuasão, o povo, que o
teve de aturar nestes anos de desencanto e de amargura. Como reconheceu ele
próprio um dia, ser um homem pouco afecto à leitura e por isso à cultura, a
história o recordará apenas como o presidente mais limitado de todos quantos
serviram a República. Dele, nem a vaca que ri de felicidade, açoreana, irá ter
saudades.
-(publicado no DN madeira)
-(publicado no DN madeira)
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