O casal Santos festejou as suas Bodas de Ouro no restaurante O Penhorado (passe a publicidade) junto da família mais chegada pois trata-se de gente com posses bastante modestas. No fim, o senhor Santos, cidadão cumpridor, lá pediu a factura aproveitando para dar o NIF na ilusão de lhe vir a sair um automóvel. Pelos vistos, em má hora o fez pois passados poucos dias recebeu uma carta das finanças e feliz da vida chamou a esposa para assistir à sua abertura pois teve um pressentimento que lhe tinha saído o carro de prenda. Que decepção teve o casal ao ler que se tratava duma notificação, brindando-o com a missão para que quando voltasse ao restaurante teria que executar uma penhora. Acto continuo, jurou à esposa que caso festejassem as Bodas de Diamante, se até lá ainda existirem reformas e o restaurante não tiver falido, iriam lá sim, mas pedir factura, nunca.
Ora este intróito tem a ver com as leis que saem todos os dias feitas por cabeças com massa cinzenta sim, mas sem neurónios. Infelizmente é ilusão de óptica pois apesar de cinzenta não passa de massa de cimento. No caso em apreço e na opinião de técnicos de contas, para além de ser ilegal tal lei por quebra de sigilo fiscal ainda nos obriga a ser cobradores sem remuneração. Com tal lei, o consumidor irá deixar de dar o NIF e até evitará solicitar factura, fomentando desta maneira a fuga ao fisco. Agora me lembro daqueles que na altura, alertavam para os inconvenientes da identificação fiscal e este caso vem confirmar tal alerta e mostrar que isto será apenas a ponta do iceberg. Ora tudo isto é o resultado das nomeações de boys sem experiência para os gabinetes governamentais daqui resultando que tais leis mais pareçam ter saído pela chaminé duma cimenteira. Mas nem tudo é negativo pois graças à boa manutenção das instalações, estamos livres dum novo surto de legionella. Ao menos isso. Jorge Morais
Publicada no Jornal PÚBLICO em 21.04.2015 com alguns cortes
Gostei do texto por conter o que já tinha pensado. Todavia, os crânios que tudo isto inventaram deram um tiro em si mesmos, o que não era nada mau. Mas, agora, o zé pagante questiona-se se deve ou não pedir factura.
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