sexta-feira, 17 de abril de 2015

Os actuais vendedores da banha da cobra


Como o anúncio diria “eu sou do tempo em que”, na segunda metade do século XX, o lugar da Cancela Velha, à Rua Formosa, no Porto, era o poiso dos vendedores da banha da cobra, unguento ‘milagroso’ contido em caixinhas redondas, que dava para combater todos os males do corpo: a dor ciática, dores de costas, antrazes, dores de cabeça e calos, de entre outros padecimentos.
Portanto, no tempo do senhor ‘Esteves’, que já esteve mas já cá não está, ou dos semanais serões ‘conversas em família’ dimanados na televisão a preto e branco do regime, tudo se passava numa paz podre de se cortar à faca, num cinzentismo castrador das ideias luminosas vindas do exterior.
Todavia, hoje, quase cinco décadas após o que acima anuncio, os actuais vendedores da banha da cobra são muitíssimo mais sofisticados e até tenebrosos, com o poiso nos mais variados lugares de engodo: estão no governo, na casa do povo, em Belém, na banca, nas empresas para onde saltaram muitos dos políticos que fizeram untuosas leis que as protegesse, em muitos dos meios da comunicação social, mormente nas televisões, nas quais até os bem pagos apresentadores prescrevem placebos para todos os males: são os que contém cartilagens de tubarão, fósseis ultra milenares e elixires vários, portadores da longevidade eterna, cogumelos miraculosos. Enfim, tudo tão mirabolante, que só morre quem não quer viver.
E, agora, com a entrada mais que oficial da venda dos combustíveis simples, mais simples não podia ser o engodo das gasolineiras, pois chegou-se ao fim da macacada aditivada, em que tudo vale menos tirar olhos, digo octanas, para já não falar nos arrastamentos (*) generalizados que o actual governo tem levado a efeito às nossas bolsas e débeis economias, nestes últimos quatro anos de gamanço ultra liberalizado.
Assim, ‘tudo vale a pena, quando o gamanço institucionalizado não é pequeno’.

(*) – o mesmo que assaltos de toda a natureza e feitio.

José Amaral

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.