quarta-feira, 22 de abril de 2015

UM ANJO



Hoje cruzei-me com um anjo, numa paragem de autocarro. Andam por todo o lado, principalmente nos locais menos prováveis. As pessoas dizem que não os veem, não os encontram, porque andam tão assolapadas nos seus aturdimentos da vida, que só olham e não veem.

Este anjo apresentava-se banal. Não irradiava luminescências, nem outros fogachos de artifício. Era um ser simples disfarçado em cão.

A dona, um ser igualmente lindíssimo, afagava-o na paragem do autocarro. Afagava-o mas não o via, não podia.

O cão-anjo, cumprindo a rigor os preceitos das entidades angelicais, estava simplesmente presente, derretendo-se com as carícias da dona. E olhava-a dizendo amor.

“Aqui estou para te guiar e tu comigo para me fazeres festas, que é o que mais gosto”.

Vi hoje um anjo, e fiquei especado e parvo a vê-los os dois amando-se perdidamente em plena via pública. Não sei o que tenho, mas passo a vida a tropeçar nos anjos...deve ser por amar incondicionalmente este mundo em que nos foi dado o privilégio de viver!


Ganhei este fim de dia de Abril ensolarado. Que raio de mês este, que mexe tanto comigo!


7 comentários:

  1. Só os poetas se encantam com "coisas" que aos outros seres, seus irmãos, passam despercebidas. Ainda é bom haver quem assim seja, para adoçar os dias que correm e que não são propícios a sonhos.

    ResponderEliminar
  2. O Luís é muito atento e sensível. Vê o que todos veem, mas com outro olhar, profundo.

    ResponderEliminar
  3. E eu no meu casulo, até parece que estou a ver os dois angelicais entes, quase invisíveis, que o Luís lobrigou ver naquela quarta-feira de um Abril sem fim à vista.

    ResponderEliminar
  4. Belíssimo texto, tanto pela densidade poética como pela sensibilidade nele reflectido e sinceramente não me parece que a culpa seja apenas do "mês de Abril que mexe tanto comigo ". A culpa, abençoada culpa direi eu, é de nesse corpo haver um coração que bate, uns olhos que olham e uns ouvidos que escutam...faz toda a diferença.
    Obrigada por este magnífico texto...
    Olha que bela maneira de começar o dia...

    ResponderEliminar
  5. Em dia de aniversário de casamento, estava a pensar no que oferecer à minha mulher. Por feliz coincidência, ao ler este belíssimo texto, irei, não sei se abusivamente, considerá-lo como prenda que irei compartilhar com ela. Obrigado Luís

    ResponderEliminar
  6. Usem e abusem e agradeço as vossas palavras. Obrigado!

    ResponderEliminar
  7. Hoje, dia 26, o jornal Público inseriu este artigo nas Cartas à Directora. Parabéns ao autor e ao jornal.

    ResponderEliminar

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.