Com a chegada ao poder da geração "Sexo, Drogas & Rock and Roll", o culto do efémero e do prazer tomou conta do espaço público, fruto do individualismo exacerbado desta geração que se considera a consumidora final da nossa civilização.
A legislação que PS, PSD e CDS se preparam, neste momento, para aprovar, estendendo aos padrastos e madrastas as responsabilidades parentais, reflecte o espírito egoísta de uma geração que não só já não educou os seus filhos, deixando essa tarefa a cargo dos avós, como, pelos vistos, também não está para cuidar dos seus netos. Só assim se explica esta multiplicação artificial, por via legal, de pais e mães, transformando a criança num objecto que vai passando de mão em mão (ou, melhor, de mãe em mãe) na esperança de que alguém queira ficar com ela.
O casamento era até há bem pouco tempo uma instituição que tinha como finalidade fazer filhos, criá-los e educá-los. Ou seja, era uma instituição onde o direito dos filhos a crescerem e serem educados pelos seus pais se sobrepunha ao direito à felicidade individual de cada um dos membros do casal. O dever sobrepunha-se ao prazer.
Com a chegada da nova geração de governantes, o sexo tornou-se a chave da relação perfeita e o casamento transformou-se numa instituição para validar relacionamentos puramente sexuais e onde os filhos ganharam o estatuto de animaizinhos de estimação, sendo adquiridos e abandonados pelos mesmos motivos.
Esta geração de governantes bem pode alardear a superioridade cultural da nossa civilização. O problema é que não há nenhuma civilização, por muito evoluída que seja, que sobreviva sem descendência. Ora, o que parece é que a nossa civilização chegou ao fim da linha. Até porque a vida só faz sentido se houver, na nossa vida, coisas mais importantes do que ela e pela qual somos capazes de dar a vida.
Esta é uma das razões por que o fundamentalismo islâmico atrai hoje cada vez mais jovens ocidentais. Dá-lhes aquilo que a nossa civilização já não é capaz de lhes oferecer: um sentido para a vida e uma razão para morrer. É sempre mais reconfortante para um jovem morrer de arma na mão, a lutar por Deus, do que com uma seringa no braço, a lutar por Nada.
As análises, como esta, que aprofundam as causas sociais, que estão na base da destruição desta civilização, não são compreendidas pela maioria dos indivíduos, porque foram formatados para o hedonismo e desprezo pelo próximo. Logo, os dados estão lançados e é nesta estrada que a vida social vai desenvolver os seus trâmites. Tudo quanto nasce morre e as civilizações não podem fugir a esse princípio. Parabéns pelo artigo, na senda de outros que tem subscrevido.
ResponderEliminarCaro Dr. Santana-Maia Leonardo,
ResponderEliminarPor receio de o não ter compreendido completamente, vi-me obrigado a ler o seu artigo mais do que uma vez. Depois de o ter conhecido pessoalmente, no passado dia 28 de Março, no Encontro, a admiração que por si sentia, em função de alguns dos seus escritos com que já tinha deparado, consolidou-se.
Não vou dizer que a perdi com este “milagre da multiplicação dos pais”. Mas fiquei verdadeiramente perplexo, por isso, deixo aqui as minhas inquietações.
Concordo consigo em que a geração que nos governa deixa muito a desejar. Os cifrões, como que deuses únicos da actual civilização, e que ocupam os devaneios dos senhores que ocupam as cadeiras do poder, baralham a minha capacidade de entendimento.
Confesso a minha ignorância quanto ao âmago da questão que aborda, a conferência de responsabilidades parentais a padrastos e madrastas. Não conheço a legislação que se está a cozinhar e, portanto, não a comento.
Mas custou-me ver que restringe as finalidades do casamento a “fazer filhos, criá-los e educá-los”, menosprezando a felicidade individual dos progenitores em favor do dever (de quê?). Por essas e por outras, se criaram tantas e tantas situações de paz podre que a ninguém aproveitou e muito menos aos “filhos-cimento” de matrimónios equivocados.
Também me custou ver que, no seu entender, o casamento se transformou numa “instituição para validar relacionamentos puramente sexuais”. Como se, nos dias de hoje, fosse necessário casar para conseguir relacionamento sexual…
E comparar filhos de casais separados a “animaizinhos de estimação” é, no mínimo, uma expressão algo infeliz. Divorciei-me com três filhos, embora já crescidos, e sei do que falo.
É possível que o “fim da linha” da nossa civilização esteja a acontecer, mas pode ter a certeza de que não será pelos motivos que invoca. Ou, pelo menos, da forma determinante como sugere.
Quanto ao fundamentalismo islâmico, há por aí diversos estudos que apontam para causas diferentes daquelas que sinaliza, embora não possa deixar de concordar consigo em que a nossa civilização não é capaz de oferecer aos jovens ocidentais “um sentido para a vida e uma razão para morrer”. De qualquer forma, quando um jovem morre, de arma na mão, de seringa no braço, ou mesmo de fome, é sempre uma perda irreparável para a Humanidade.
Ciente de que a sua crença no Homem se mantém incorrupta, aceite, Caro Amigo, um abraço de quem, muitas vezes, também sente o desânimo perante o mundo que se nos oferece.
Para o Santana-Maia
ResponderEliminarUma rectificação no comentário que fiz: onde escrevi "subscrevido", queria dizer subscrito. Quanto ao artigo, continuo a considerá-lo muito profundo, e ninguém pode esperar que nele esteja toda a matéria duma tese sobre a geração que domina o actual sistema do poder.
Caro Santana-Maia Leonardo, o seu texto parte de um pressuposto errado. A geração que está no poder não é a do "sexo, drogas e rock'n'roll". Está a ver Paulo Portas num concerto dos Sex Pistols ou Passos Coelho a tripar LSD? Os verdadeiros adeptos do "sexo, drogas e rock'n'roll" morreram como tordos e estavam tão "queimadinhos" que nem tinham tempo para se preocupar com ascensão social, muito menos participar da vida de um partido político. Os que estão no poder são precisamente "os outros", os "direitinhos" (ou deverei dizer "os direitinhas"?). Assim, o mundo em que vivemos é orientado pelos que sobraram da tal geração que refere, não necessariamente os melhores, talvez os mais espertos ou os mais estúpidos, não consigo decidir-me. Finalizo este comentário fazendo notar que eles herdaram este mundo já em bastante mau estado da geração do... da geração do quê?
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