terça-feira, 21 de abril de 2015

O voo da alvéola amarela









*Cristiane Lisita  (jornalista, advogada e escritora, pós-Phd).


 “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle (...). Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo.Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar (...) o voo já nasce dentro dos pássaros. (...) só pode ser encorajado”, defendia o educador, escritor  e psicanalista Rubem Alves.


A cultura impregnada em algumas faculdades em Portugal denota, em muito, a primazia por uma burocracia institucionalizada, valendo-se de paradigmas ortodoxos das notas e dos comportamentos dos educandos para medir a pretensa capacidade de assimilação dos conteúdos pragmáticos. Nota-se que certos docentes estabelecem seu poderio na certeza de serem os arautos da instituição e não raro sobrepõem-se a ela. Por vezes, administradores vestindo as suas togas faustosas, igualmente, olvidam-se de caminhar por entre simples mortais. Afinal, “em terra de cego que tem olho é rei”.


Não é mera coincidência que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, com sede em Paris, abarcando 34 nações, revela, em sua plataforma comparativa, um dos piores índices em educação, em tantos quesitos, destinado a esse país. Mais de 30% dos alunos que estão na faixa dos 15 anos de idade foram reprovados, sem calcular fatores relevantes como o abandono das escolas, os 10,5% de licenciados sem emprego, um valor que alcança o dobro da média obtida pela pesquisa.


Destarte, na avaliação do U-Multirank, recente instrumento que confronta o desempenho de mais de 1200 instituições de ensino superior, 1800 faculdades e 7500 programas de estudo de 80 países, com o apoio da União Europeia, constatou-se que seis universidades portuguesas atingiram dez ou mais notas ‘A’, sendo sopesadas como as melhores instituições do mundo no que se refere ao ensino superior. São 31 indicadores sinalizando, dentre outros, rumo à internacionalização, envolvimento regional, destacando-se no quesito investigação, e deixando a desejar nos fatores relativos à transferência de conhecimento e ensino/aprendizagem.


É irrefutável que os colégios, por seus diretores e professores se alforriem das correntes aferradas do passado e compreendam que a prisão mental é uma das formas mais degradantes que se pode impor à condição humana. Um pássaro cativo tem medo de alçar as suas asas. Um aluno precisa ser alentado a desenvolver sua substância interior, sua criatividade, sua ideologia. Ter o incentivo de voar. “Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados”. Sabem que toda primavera avizinha-se com o voo da alvéola amarela.




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