*Cristiane Lisita (jornalista, advogada e escritora, pós-Phd).
“Há escolas que são gaiolas e há escolas que
são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a
arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle (...). Pássaros
engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos
pássaros é o voo.Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são
pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar (...) o voo já
nasce dentro dos pássaros. (...) só pode ser encorajado”, defendia o educador,
escritor e psicanalista Rubem Alves.
A
cultura impregnada em algumas faculdades em Portugal denota, em muito, a
primazia por uma burocracia institucionalizada, valendo-se de paradigmas
ortodoxos das notas e dos comportamentos dos educandos para medir a pretensa
capacidade de assimilação dos conteúdos pragmáticos. Nota-se que certos
docentes estabelecem seu poderio na certeza de serem os arautos da instituição
e não raro sobrepõem-se a ela. Por vezes, administradores vestindo as suas
togas faustosas, igualmente, olvidam-se de caminhar por entre simples mortais.
Afinal, “em terra de cego que tem olho é rei”.
Não
é mera coincidência que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico, com sede em Paris, abarcando 34 nações, revela, em sua plataforma
comparativa, um dos piores índices em educação, em tantos quesitos, destinado a
esse país. Mais de 30% dos alunos que estão na faixa dos 15 anos de idade foram
reprovados, sem calcular fatores relevantes como o abandono das escolas, os 10,5%
de licenciados sem emprego, um valor que alcança o dobro da média obtida pela
pesquisa.
Destarte, na avaliação do U-Multirank, recente
instrumento que confronta o desempenho de mais de 1200 instituições de ensino
superior, 1800 faculdades e 7500 programas de estudo de 80 países, com o apoio da
União Europeia, constatou-se que seis universidades portuguesas atingiram dez
ou mais notas ‘A’, sendo sopesadas como as melhores instituições do mundo no
que se refere ao ensino superior. São 31 indicadores sinalizando, dentre outros, rumo à
internacionalização, envolvimento regional, destacando-se no quesito investigação,
e deixando a desejar nos fatores relativos à transferência de conhecimento e
ensino/aprendizagem.
É
irrefutável que os colégios, por seus diretores e professores se alforriem das
correntes aferradas do passado e compreendam que a prisão mental é uma das
formas mais degradantes que se pode impor à condição humana. Um pássaro cativo
tem medo de alçar as suas asas. Um aluno precisa ser alentado a desenvolver sua
substância interior, sua criatividade, sua ideologia. Ter o incentivo de voar.
“Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados”. Sabem que toda primavera avizinha-se
com o voo da alvéola amarela.
E quem nunca teve escola, será pássaro ou um alado sem asas para voar?
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