sábado, 15 de fevereiro de 2020


D e s u m a n i d a d e!...


O homem entrou na urgência do hospital com sérios problemas, mas passou horas a fio à espera que uma alma caridosa se compadecesse dele; e quando a mulher, ao ver o marido cada vez pior, alertou deseperada para o que lhe acontecia, ainda lhe disseram que tinha mais de duzentas pessoas à frente!

Duzentas pessoas na urgência de Lamego? Que raio de epidemia terá acontecido por lá que levou tanta gente à urgência àquela hora, naquele dia, e teve direito a passar à frente de quem realmente carecia de atendimento urgente, a ponto de o deixarem morrer
ali, porque ainda não tinha chegado a sua vez de ser atendido? Diz a viúva, lê-se no JN,  que depois de o marido lhe ter morrido nos braços, ao fim de seis horas de desespero, então já apareceram médicos e enfermeiros de todo lado.

Já estive na urgência de um hospital algumas vezes, acompanhando outra pessoa, e devo dizer que o critério de atribuição das pulseiras, que determinam o grau de prioridade para atendimento, sempre me deixou dúvidas, porque via gente sem nada que parecesse urgente passar à frente de outros com evidentes sinais de sofrimento, e os casos já verificados de morte nas urgências revelam que aos profissionais a quem cabe fazer o rastreio lhes faltará algo importante...


Amândio G. Martins

5 comentários:

  1. O seu texto dá que pensar. E começo pelo fim: houve certamente desumanidade, mas mais evidente foi o mau funcionamento, eventualmente por razões logísticas de vária ordem. No texto há ainda o tomar como verdade algumas coisas que cita e podem não ser dados objectivos. E, como diz, a "faltar alguma coisa a quem faz o rastreio", pode não ser a insinuada humanidade... Pareço-lhe um "político" a falar? Não é minha intenção, mas sim tentar condensar (impossível?) um pensamento de quem já "andou por lá".

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  2. Quando ouvem falar da abertura de inquéritos a situações anómalas que os prejudicam, os portugueses até se arrepiam. De facto, estamos habituados a ter muitos, mas pouquíssimas conclusões explicativas e consequentes medidas. Este caso, que não conheço, parece-me ser dos que merecem um inquérito “a sério”.
    Tendo passado na semana que acabou por uma situação que me obrigou a permanecer por umas largas horas na Urgência de um grande hospital do Porto, na situação de “acompanhante”, pude testemunhar coisas que, no mínimo, tenho de classificar como surrealistas. Curiosamente, por parte dos utentes (ou acompanhantes, para ser mais preciso). Desde quem não aceita as regras, sabendo que elas existem, mas, pelo facto de terem alguém “lá dentro” que, em boa verdade, me parecia ser uma situação de saúde corriqueira, se julgam no direito de furar essas regras, não deixando de invocar, às vezes aos berros, “os seus direitos”, numa transposição para a vida real daquela coisa que por aí vegeta e se reproduz do “nós” e “eles”. Começo a compreender o crescimento dos populistas.
    Também vi, pasme-se, quem perguntasse, em tom ameaçador e pessoalmente provocador para com os seguranças em funções, se naquele hospital “não havia médicos”. Confesso que a mim, pessoa calma por natureza, me custaria muito assumir a paz com que aquele utente (?) foi atendido, obrigando mesmo à intervenção da autoridade policial, também ela com uma paciência de Jó perante tanta estupidez e prepotência.
    Já “lá dentro”, constatei que havia médicos e outros profissionais em grande profusão, só que todos atarefadíssimos. E bem vi que, por ali, não se “fazia cera”, bem pelo contrário. Espantei-me com o desvelo, atenção e, porque não dizê-lo, com o carinho que eu próprio e a pessoa que acompanhava fomos tratados. Não falando do essencial que era a eficiência e eficácia no tratamento do caso. Perdemos umas horas? Mas é claro que sim. Mas podemos ter salvo uma vida. Há horas que o paguem?
    Só para terminar: só nos deslocámos à Urgência depois de a Linha SOS nos aconselhar a fazê-lo. Foi a primeira vez que tive contacto com esse serviço e faltam-me as palavras para o elogiar.
    Quero com isto dizer que o SNS é perfeito? Claro que não. Atacado como tem sido, só me apetece celebrar a sua resiliência e alta utilidade pública.

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  3. Com todos os defeitos e carências que se conhecem, é evidente que o SNS é mesmo das coisas boas que ainda vamos tendo; todavia, deixar morrer pessoas numa urgência hospitalar, por ter sido minimizado na triagem o seu real estado de saúde, é completamente inadmissível!...

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    1. Em relação a esse ponto- e isto só a mim compromete - a triagem para colocação de pulseira devia ser feita por um médico. E, mesmo assim, "sabe Deus"....

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  4. Pois, é isso mesmo que também penso; uma avaliação tão importante, da qual podem depender vidas, deve ter um responsável qualificado...

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