domingo, 9 de fevereiro de 2020

O HOMEM QUE TERIA DE SER MORTO


     Os grandes benfeitores da humanidade quase sempre são muito perseguidos e jurados de morte. Suas ideias e até mesmo suas descobertas ou invenções podem contrariar interesses materiais e mesmo religiosos da pobre e ainda tão atrasada sociedade humana dividida por uma luta de classes que somente desaparecerá com a futura e muito longínqua implantação de um socialismo cristão, que será bem diferente do previsto por Max baseado no materialismo dialético.
     São Vicente de Paulo, o grande apóstolo da caridade, disse a uma religiosa que o auxiliava: “Ninguém pratica o bem impunemente”.
     Há uma ficção do antigo cinema norte-americano que retrata a história de um homem do terno branco. Ele confeccionou uma vestimenta de tecido de duração infinita e que nunca precisaria de ser lavada, porque era imune a qualquer sujeira. Sofreu a mais tenaz perseguição de industriais da tecelagem, de alfaiates e até mesmo de simples lavadeiras de roupas, mas não desistiu de seu nobre intento. Planejaram matá-lo e só não morreu porque acordou de seu sonho que se transformou em pesadelo.
     O imperialismo inglês quando dominava a Índia, para impor seus produtos, editou lei proibindo a população local de extrair o sal da água marítima e de fazer tecidos, mas não houve êxito em tal absurda proibição, porque o grande líder da nação, Mahatma Ghandi proclamou a pacífica desobediência civil. No Brasil, Delmiro Gouveia, hoje até nome de cidade no Estado de Alagoas, teve sua indústria têxtil destruída e lançada na cachoeira de Paula Afonso por sicários a serviço dos interesses britânicos.
     Jesus Cristo, o maior de todos os mestres da humanidade, proclamava um reino de Deus a eclodir dentre das criaturas, através de uma religiosidade univérsica que a antiga sinagoga de Israel e mesmo as religiões contemporâneas tentam limitar, segundo suas teologias. Foi perseguido e teve sua morte cruel pedida pelo próprio povo por ele tão beneficiado, mas que, infelizmente, se deixou ser iludido e excitado  pela cúpula farisaica, que teve o respaldo de um pusilânime governador romano, que, ao invés de pelo menos decretar um encarceramento provisório do acusado (prisão preventiva é antiga), e remeter o processo a Roma, de acordo com as formalidades  do direito pertinentes àquela inusitada situação de suposta prática delituosa, preferiu permitir a consumação  da morte de cruz, indevida para um líder religioso, na época.
     Um ótimo texto escrito por SALOMÃO JORGE, ex-gerente bancário (CAIXEGO) e Mestre instalado da Loja Maçônica “Ordem e Progresso" de Goiânia, capital do Estado de Goiás, bem retrata os acontecimentos de Jerusalém, que ora tomo a liberdade de transcrever. Seu título: É REUNIÃO DA NOITE. Ei-lo:
    “ Estamos aproximando de mais um pleito eleitoral e todos os partidos políticos se preparam para tentar eleger seus candidatos visando a ocupar os melhores cargos, principalmente os apadrinhados que tomam conta de tudo, para continuarem sendo eleitos. Muitos são até bons de votos, mas não têm capacidade administrativa para governar e acabam enchendo os gabinetes com os chamados no Brasil de “posto Ipiranga”, que possuem boas ideias, mas não sabem como pô-las em prática: falta-lhes experiência, tendo como consequência a continuação do país no fundo do poço.
     Quando aparece um líder que mostra seu pendor administrativo, surgem os conchavos noturnos para eliminar os pontos positivos, transformando-os em negativos, isto é, tirando todas as condições e até perseguindo, como fizeram com muitos e até com nosso mestre Jesus Cristo. De onde vem e como funciona essa poderosa força oculta?  Podemos também perguntar:  Qual foi o motivo, qual foi o crime que levou a condenar e até crucificar Jesus?
      Ele não era político, não tinha fazenda, comércio, indústria, cargo público. Chegou ao ponto de dizer a um candidato ao apostolado que não tinha sequer uma pedra para repousar a cabeça (Mateus 8.20). Em seu julgamento, a curiosidade era tão grande, que o governador Pôncio Pilatos pediu ao senador    romano Públius Lentulus que estava em Jerusalém, para lhe informar quem era este homem chamado Jesus, tão amado por uns e odiado por outros. Atendendo o pedido do governador, disse-lhe que já tinha enviado uma carta ao senado romano, contando que havia entre nós um homem considerado pelos que o acompanham como filho de Deus, que ama o próximo, cura os enfermos, ressuscita os mortos, dá luz aos cegos e chamam todos de irmãos. Seu nome é Jesus, filho de Maria.
     Pilatos continua com sua pergunta: Quem são estes que formam essa força oculta trazendo preocupação para todos, inclusive ao rei Herodes, mesmo sabendo que nele não existe nada de mal, só o bem para a humanidade. Diga-me quem são? Respondeu Publius: É a elite da cidade que forma esta força oculta, e poderá, com sua permissão, ser convidada para uma reunião aqui no palácio, a fim de o senhor conhecer e saber os motivos e quem sabe até dar razão e colaborar para tirar este homem do nosso meio.
     E assim se realizou uma reunião no salão nobre do palácio, em altas horas da noite, com todas as portas fechadas. De início, o governador assumiu a presidência, fazendo os esclarecimentos costumeiros e em seguida facultou aos presentes e a cada representante de classes, que fizessem com fundamentos seus protestos contra Jesus.                                                                                                     
     O primeiro a falar foi o representante dos advogados que assim disse: Esse homem prega a conciliação entre as pessoas, o amor ao próximo, o respeito às leis, aos pais, às famílias: Afirma que todos somos irmãos, que devemos pagar os impostos, respeitar as autoridades. Com isso nossos escritórios estão fechando as portas: Não há mais divórcios, questões trabalhistas, acabaram as brigas, desapareceram os inimigos. Assim sendo, como vamos custear os nossos escritórios, porque só vivemos às custas, com o perdão da palavra, das dificuldades alheias. Com isso, pode-se até fechar as escolas de direito, e os professores perderão suas rendas, e agora!?
     O segundo a falar foi um membro da classe médica: Esse homem anda pregando amor e caridade, curando os enfermos, dando luz aos cegos, fazendo aleijados andarem ressuscitando mortos. Em face disso, nossos hospitais, consultórios, laboratórios estão fechando. Já não temos como pagar nossos funcionários.
     O terceiro a falar foi o representante dos contabilistas: Não temos mais clientes, a maioria dos sonegadores de impostos está pagando direitinho e até um funcionário do governo, por nome Zaqueu, devolveu dinheiro, achando que o imposto estava muito alto. A corrupção acabou, não sei como o senhor vai governar se até os funcionários estão aliados a ele, inclusive oferecendo-lhe jantar.
     O quarto, representando os comerciantes, disse: Senhor governador, nossa situação não fica atrás.  Caíram as vendas em quase 90%. Esse homem incrível, o senhor pode acreditar, com 05 peixes e quatro pães ele alimentou mais de 5.000 pessoas e ainda sobrou alimento. Ninguém vai aos supermercados, vai a ele.
     O quinto, representante dos vinicultores, alegou: Nós produtores de vinho, estamos paralisando nossas produções, porque esse homem está transformando água em vinho.
     O sexto era um sacerdote e asseverou: senhor governador, estamos muito abalados. Ele diz que fará sua igreja baseada num discípulo de nome Pedro. Ninguém está indo mais ao templo, porque este, segundo ele, está no próprio coração da criatura humana. Como nós vamos fazer sem os nossos dízimos. Podemos até passar fome.
     O sétimo, um pedreiro, reclamou por ele ter dito que poderia destruir o templo para construir outro em três dias. Então como vamos viver. Finalmente, falou um centurião: Senhor governador, a situação ainda é pior, porque dizem por aí que ele é rei, e, se o senhor nada fizer contra isto, Herodes vai pensar que estaria sendo traído e poderia fazer uma denúncia em Roma. Precisamos, portanto, tomar uma decisão imediatamente. Pôncio Pilatos pensou, pensou e disse: Estou numa situação difícil, não posso prender o homem porque o povo vem para cima de mim, dizendo que ele nada deve, e não posso deixar como está, porque todos nós estamos sendo prejudicados.
     Logo em seguida, fez a seguinte pergunta: Entre vocês há alguém que tenha uma sugestão para resolver este dilema. Logo respondeu um fariseu: Temos. Como é de costume, na época da páscoa dar liberdade a um preso, coloque Jesus e Barrabás e deixa o povo escolher. Mas o povo vai escolher Jesus, disse Pôncio Pilatos—. Não senhor, pode ficar tranquilo, nós organizaremos diversos grupos com bandeiras e panelas para abafar a voz dos acompanhantes de Cristo e excitaremos o povo a condená-lo. E assim se fez: Nem a elite, nem o governador foram os culpados. Moral da história: é assim que trabalham as forças ocultas, que até lavam as mãos. ”

2 comentários:

  1. A história, como parábola, é bonita. Só que essas não são as forças ocultas, pois são-no bem às claras e são mesmo a estrutura da organização económica e social. E, muito curioso, é que tenha sido contada por - ele sim - um membro duma força verdadeiramente oculta: a Maçonaria....

    ResponderEliminar
  2. Semelhante maquinação foi no Brasil levada às últimas consequências contra Dilma e Lula que, não sendo santos, viram extrapolados alguns pecadilhos com o fim que se conhece...

    ResponderEliminar

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.