terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

“La tierra a el que la trabaja”...


Os agricultores espanhóis andaram a semana passada toda em manifestações e tractoradas, revoltados com os baixos preços a que são obrigados a vender o produto do seu trabalho, enquanto vêem o consumidor a pagar multiplicado por muitos os produtos que venderam ao desbarato; só que as grandes superfícies, acusadas por todos de se locupletarem com as mais-valias, rejeitam ficar com o odioso dessa acusação.

Comentadores deixam transparecer que são os próprios agricultores que não se organizam devidamente, pois sendo Espanha a 4ª potência agrícola europeia, das dezenas de cooperativas agrícolas espanholas nem uma só está entre as quatro maiores da Europa; e para criar ainda maior mal-estar, o sindicalista presidente da UGT teve a infelicidade de dizer que são os “terratenientes” quem está por detrás das manifestações por causa do aumento do salário mínimo para 950€, ao que os agricultores respondem que, por falta de mão de obra para o sector, já estão a pagar muito mais.

E aquele cartaz que, no meio de uma floresta deles, gritava “a terra a quem a trabalha” soou-me ao mesmo tempo comovente e arcaico, pois o que falta não é terra, que abunda inculta por todo o lado, mas quem a queira trabalhar; e este problema dos baixos preços pagos ao produtor que, muitas vezes, nem cobrem os custos de produção, levando a gente do campo a endividar-se e a fugir para outras actividades é comum a vários países, por cá também, sendo importante meditar aonde levará minimizar uma actividade fundamental para a sobrevivência de todos. Dizia o escritor catalão Bernardo Atxaga ao jornal “La Vanguardia”, citado pelo JN: “Hoje olhamos para o campo como se fosse um planeta tão distante como Marte; é preciso um telescópio para que o vejamos”...


Amândio G. Martins

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