DELES PARA
NÓS
Foi durante
os últimos anos do apartheid na África do Sul, o sistema de segregação total
entre os afrikaaners, descendentes dos holandeses, e os grupos “de cor”. Era a
quarta vez, noutros tantos dias, que aquelas trinta pessoas se reuniam clandestinamente.
Metade eram empresários e executivos brancos, a outra metade organizadores da
comunidade negra. O grupo está a ser treinado para orientar em conjunto
seminários sobre liderança, com o bjectivo de ajudarem ao construir
competências governamentais no seio da comunidade negra.
No último dia
do programa, com os olhos colados a um ecrã de televisão, ouviram o presidente
W.F. De Klerk fazer o hoje famoso discurso que anunciava o fim eminente do
apartheid. De Klerk legalizava uma longa lista de organizações até então
proibidas e ordenava a libertação de numerosos presos políticos.
Anne Loersebe,
um dos líderes da comunidade negra, sorria: à medida que cada organização era
nomeada, imaginava o rosto de alguém que conhecia e que ia poder saír da sombra.
Depois do
discurso, o grupo cumpriu um ritual de encerramento, em que cada um dos
presentes tinha a oportunidade de dizer algumas palavras de despedida. A maior
parte limitou-se a realçar o significado daqueles encontros e a expressar a sua
satisfação por ter participado.
A quinta
pessoa a tomar a palavra, porém, um afrikaaner alto, emocionalmente reservado,
olhou directamente para Anne e disse: “quero que saiba que fui educado a pensar
que você era um animal” E, tendo dito isto, desfez-se em lágrimas.
Nós-Eles é
uma reafirmação do Eu-Isso no plural: as dinâmicas subjacentes são as mesmas.
Como nos diz Walter Kaufmann, o tradutor inglês da Martin Buber, com as
palavras “Nós-Eles”, “o mundo é dividido em dois; os filhos da Luz e os filhos
das Trevas, as ovelhas e as cabras, os escolhidos e os malditos.
NOTA – Este texto
foi compilado do livro de Daniel Goleman, “Inteligência Social”, editado em
Portugal pela “Temas & Debates”.
Transcrito
por Amândio G. Martins
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