sexta-feira, 11 de setembro de 2015

INTELIGÊNCIA SOCIAL

                                    DELES PARA NÓS
Foi durante os últimos anos do apartheid na África do Sul, o sistema de segregação total entre os afrikaaners, descendentes dos holandeses, e os grupos “de cor”. Era a quarta vez, noutros tantos dias, que aquelas trinta pessoas se reuniam clandestinamente. Metade eram empresários e executivos brancos, a outra metade organizadores da comunidade negra. O grupo está a ser treinado para orientar em conjunto seminários sobre liderança, com o bjectivo de ajudarem ao construir competências governamentais no seio da comunidade negra.
No último dia do programa, com os olhos colados a um ecrã de televisão, ouviram o presidente W.F. De Klerk fazer o hoje famoso discurso que anunciava o fim eminente do apartheid. De Klerk legalizava uma longa lista de organizações até então proibidas e ordenava a libertação de numerosos presos políticos.
Anne Loersebe, um dos líderes da comunidade negra, sorria: à medida que cada organização era nomeada, imaginava o rosto de alguém que conhecia e que ia poder saír da sombra.
Depois do discurso, o grupo cumpriu um ritual de encerramento, em que cada um dos presentes tinha a oportunidade de dizer algumas palavras de despedida. A maior parte limitou-se a realçar o significado daqueles encontros e a expressar a sua satisfação por ter participado.
A quinta pessoa a tomar a palavra, porém, um afrikaaner alto, emocionalmente reservado, olhou directamente para Anne e disse: “quero que saiba que fui educado a pensar que você era um animal” E, tendo dito isto, desfez-se em lágrimas.
Nós-Eles é uma reafirmação do Eu-Isso no plural: as dinâmicas subjacentes são as mesmas. Como nos diz Walter Kaufmann, o tradutor inglês da Martin Buber, com as palavras “Nós-Eles”, “o mundo é dividido em dois; os filhos da Luz e os filhos das Trevas, as ovelhas e as cabras, os escolhidos e os malditos.

NOTA – Este texto foi compilado do livro de Daniel Goleman, “Inteligência Social”, editado em Portugal pela “Temas & Debates”.
Transcrito por Amândio G. Martins

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