Ao navegar no site
do eBay ( http://www.ebay.com), deparei com uma
oferta de negociação que me chamou
atenção, trata-se da venda do original da "Lista de Schindler", 14
páginas com os nomes dos 801 judeus salvos pelo industrial alemão Oskar
Schindler na segunda grande guerra, no
valor de três milhões de dólares ( mais de seis milhões de reais ), com
encerramento das ofertas no dia 29 deste mês de julho.
Para aqueles pouco
acostumados com a internet, o eBay é o nome de uma
empresa de comércio eletrônico fundada nos Estados Unidos, em setembro de 1995, por Pierre Omidyar. Atualmente é o maior site do mundo para a venda e compra de bens, é o
mais popular shopping da Internet, sendo considerada a pioneira neste tipo de
trabalho, no Brasil temos uma similar chamada de Mercado Livre.
Pessoalmente,
tomei conhecimento desta lista na década de 1990, através do filme biográfico
do mesmo nome, sendo até hoje considerado
entre os dez melhores filmes no gênero
da história de Hollywood (Oscar do
melhor filme em 1994).
A façanha deste
notável alemão foi à custa do uso de sua fortuna pessoal junto aos corruptos
oficiais nazistas; estima-se, hoje, aproximadamente em seis mil, o numero de
descendentes dos judeus salvos através da lista que levou o seu nome.
Um caso idêntico a
este, com maiores proporções, pouco difundido por parte da mídia, também foi retratado
em um filme português, nos remete a
figura do magnânimo humanista lusitano Aristides
de Souza Mendes.
Este singular
e admirável ser humano foi Cônsul no Brasil na década de 1920, nas cidades de
Curitiba, São Luiz do Maranhão e Porto Alegre. De seus 14 filhos dois nasceram no nosso solo, tendo
em 1940 assumido o consulado em Bordéus, França, por designação do então
ditador Salazar, em pleno furor da segunda guerra mundial, na qual Portugal se
declarava neutra.
Na qualidade de Cônsul na França ocupada
pela Alemanha, Sousa Mendes desafiou as ordens expressas de seu governo,
concedendo mais de 30 mil vistos de entrada em Portugal
a refugiados de todas as nacionalidades , dos quais cerca de 10 mil eram
judeus.
Revelando uma coragem e determinação
invulgares - e consciente do risco para sua vida e a da sua família -
recusou-se a entregar milhares de pessoas a um destino certo nos campos de
concentração
nazistas. Confrontando com as ordens de
Lisboa, ele teria dito: "Se
há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens do que a uma ordem
de Deus".
O governo português, ao se sentir pressionado pela sua condição de país
não beligerante, o destitui de suas funções no consulado. Souza Mendes ainda
apelou para
o Supremo Tribunal Administrativo e para
Assembléia Nacional, mas de nada lhe valendo estes recursos.
Para agravar a sua situação, ele foi colocado
em disponibilidade com drástica redução salarial, e o pior: foi lhe proibido
exercer a advocacia, com total retirada de oportunidades, inclusive aos seus
filhos, que com isto foram obrigados a emigrar. Consta que dois deles se juntaram ao exército americano
na invasão da Normandia(Dia D).
Aqueles que defendem Salazar pelo
excessivo rigor aplicado a Souza
Mendes, ao lhe ter tirado as mínimas
condições de manutenção da família, alegam que ele o fez por pressão direta de
Hitler que tinha inclusive pedido a sua cabeça, por não perdoar o Cônsul,
principalmente por ter concedido visto
ao Príncipe Otto de Habsburg, filho do
ultimo imperador do império Austro-Húngaro. O ditador nazista
considerava o Príncipe seu desafeto pessoal e lhe tinha jurado de morte.
O que nos causou estranheza foi, no após
guerra, Salazar, mesmo tendo ficado com
o mérito do salvamento de tantas pessoas,
não ter restituído Souza Mendes ao seu antigo cargo, fato só acontecido
simbolicamente após a sua morte com o título póstumo, “Ordem da Liberdade” em 1989,
no governo de Mário Soares, onde a Assembléia da República reparou
a grave injustiça que lhe fora cometida, reintegrado-o no serviço diplomático
por unanimidade e aclamação.
Dois fatos marcantes na vida humanitária
deste diplomata português foram muito explorados pelos meios de comunicação: é
que entre as várias pessoas salvas pelo seu gesto de rebeldia, está a do grande
pintor Salvador Dali e por ele ter recebido em vida uma profunda admiração,
respeito e amizade por parte do grande cientista Albert Einstein.
Em estimativas realizadas em Israel, presume-se que
a quantidade de descendentes oriundos dos judeus salvos alcança a ordem de 60
mil pessoas, façanha bem superior a conseguida pelo próprio Schindler.
Em reconhecimento aos seus atos humanitários, o seu nome foi inscrito em árvores plantadas em
sua homenagem na avenida “Dos Justos Entre As Nações”, no museu do holocausto
Yad Vashem, na cidade de Jerusalém.
A sua destemida conduta solidária foi perfeitamente enquadrada dentro do
espírito do provérbio judaico que diz: “Quem salva uma vida salva a
humanidade”
muito bom, obrigada!
ResponderEliminarCaro Orivaldo Araujo. obrigado pelo interessante artigo que publicou acerca do grande Aristides de Sousa Mendes e de Schindler. E já agora a propósito de Aristides permita-me que lhe envie o teor de um pequeno texto de minha autoria e publicado a 13 de abril deste ano no DN (Diário de Notícias) em jeito de homenagem a este grande humanista português. E passo a citar: Falta de gratidão?
EliminarAristides de Sousa Mendes, quem foi que ainda não ouviu falar deste homem que em plena Segunda Guerra Mundial, teve a coragem de desobedecer a Salazar, praticando um acto de elevado humanismo ao salvar das garras de Hitler largas centenas de homens, mulheres e crianças de origem judaica. Vem isto a propósitodo estado de ruína a que deixaram chegar a casa onde viveu em Cabanas de Viriato este grande português e que motivou há dias um protesto em forma de cordão humano e em defesa da recuperação da histórica casa. Ora, não tenho dúvida de que o Estado, como forma de reparar a injustiça de que foi vítima Aristides e a sua família infligida pelo ditador de Santa Comba Dão, há muito deveria ter recuperado a casa. Por outro lado, ocorrem-me estas perguntas: sabendo nós que tanto nos Estados Unidos da América, como na Alemanha e em Israel vivem homens de origem judaica, possuidores de grandes fortunas, não terão eles a obrigação moral de levar a cabo a recuperação da casa do homem que foi um grande amigo de judeus perseguidos pelo ditador alemão. E o Estado de Israel? Porque não homenageia este grande português e grande amigo do povo de Israel, pagando a recuperação da sua casa com o objectivo de fazer da mesma um museu? Será por falta de dinheiro do Estado de Israel? Ou é apenas por falta de gratidão para com um homem, que tanto bem fez a tantos e tantos judeus e judias ?
Prezado Arlindo
EliminarO que me motivou a reapresentar este artigo, que eu tinha publicado no jornal brasileiro “Diário da Manhã” em 29/07/2013 , foi ao tomar conhecimento do estado deplorável em que se encontra a casa onde morou este singular ser humano, cuja façanha é pouco conhecida e explorada pela mídia, muito preocupada somente com os aspectos econômicos- quanto a sua observação acho muito pertinente e deveria ser alvo de um movimento junto ao governo de Israel, visando estimular entre os seres humanos a prática de atos que dignificam a nossa presença na terra.