segunda-feira, 9 de setembro de 2019

A frase para mais tarde recordar


Da longa entrevista que Catarina Martins (C.M.) deu ao Observador (rádio), o que ficou foi a declaração de que o programa do Bloco de Esquerda (B.E.) é social-democrata. Apesar de C.M. caracterizar este “social-democrata”, e se ter proclamado também “socialista”, sem qualquer eco, tudo o mais desapareceu, assistindo-se ao proliferar de críticas e insinuações, à mistura com sorrisos sardónicos.
Meto-me na campanha eleitoral não para aliciar votos em qualquer dos partidos em presença, muito menos no B.E., em quem, com a segurança que é possível termos quando negamos vir a beber desta água, não votarei em Outubro. Entende-se a posição de C.M.? Eu entendo, porque não me obceco facilmente por “rótulos”. Entre os próprios “críticos” da posição assumida por C.M., como Manuel Carvalho, no editorial do PÚBLICO de domingo, podemos encontrar um enquadramento histórico que, paradoxalmente, pode explicar a “inexplicável” posição de C.M. Criticando esta por assumir tão herética posição, o Director do PÚBLICO dá uma panorâmica do que pode significar “social-democracia”, desde os anos 1920 (podia ter ido mais atrás, ao Partido Operário Social-Democrata Russo, dos bolcheviques, e a Rosa Luxemburgo...), passando pela inflexão alemã do SPD em 1959, até à Terceira Via de Tony Blair (e Guterres, não esqueçamos). 
Insistir com C.M. para dizer com que é que o B.E. vai substituir o capitalismo, e quando, mais não é do que ignorar que não há regimes perfeitos que, por decreto, se possam aplicar às sociedades, como bem referiu a entrevistada. Onde está, afinal, o “escândalo”? Se o problema parece ser meramente semântico, porquê tanta irritação? Talvez pelo que C.M. também disse sobre a socialização dos meios de produção, a distribuição da riqueza, os monopólios naturais. Isso sim, irrita a direita. Quanto a ser um “estratagema” eleitoralista, ou, parafraseando Vicente Jorge Silva, um “jogo de máscaras”, é possível que sim, mas, em campanha eleitoral, quem abdica disso?
NOTA 
Aos mais atentos, quero dizer que tenho pena que o Fernando Rodrigues não tenha colocado aqui o texto (“Elogio à social-democracia”) que o Público deu ontem à estampa. Este meu não é uma resposta ou um comentário, mas insere-se no mesmo assunto. Esclareço ainda que acabei de enviar o presente texto para o Público, embora com sérias dúvidas de que venha a ser publicado, pelo menos na íntegra. Serve também isto para justificar a exiguidade do mesmo. Muito mais haveria para dizer mas, caso o fizesse, então é que nunca seria mesmo publicado.


3 comentários:

  1. Respostas
    1. Não é só o Bloco...pois, segundo João Miguel Tavares há " o país onde a social-democracia tem 100% de votos". O que não de todo verdade pois agora sabemos que o A. Pedro Ribeiro (provavelmente) vai votar PCP...

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  2. Como o José referiu o meu nome na "nota" subjacente ao texto, tenho quase a obrigação de aqui vir. Realmente não coloquei aqui o texto que o Público deu à estampa porque tenho seguido a minha intuição que me vai dizendo que nem tudo o que lá aparece tem que aparecer aqui. Critério? Nenhum definido. E, ás vezes, aparece aqui e não lá. E ainda não aparece nem num nem noutro lado. No caso, o José leu-o e isso agrada-me. Num aparte, o título "Elogio à social-democracia", não é o que " Ainda a social-democracia" que escrevi, mas nada tenho a reclamar da mudança. E ainda que enviei, em Bcc, o texto ao JMT.

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