quinta-feira, 19 de setembro de 2019

O manto diáfano




A recente polémica sobre o chamado “museu Salazar” veio proporcionar aos nostálgicos do execrável regime que nos dominou até ao 25 de Abril mais uma oportunidade de o branquearem. “Sobre a nudez crua da verdade”, colocaram-lhe a “fantasia” de que Salazar muito teria feito pelo Portugal de que, diz-se, ele gostava, sem, contudo, gostar dos portugueses. Sem se darem conta (ou fingindo), fazem um descarado elogio do atavismo, elevando a “monumentos ao desenvolvimento” umas quantas edificações de construção civil que, é bom de ver, sempre teriam de acontecer, quanto mais não fosse, pela inércia da própria sociedade. Onde o desenvolvimento intelectual do país e dos portugueses, sob aquela polícia do pensamento que nos abafou durante quase 50 anos? Pelo contrário, quem “mais ordenou” foi a ignorância arrogante e auto-suficiente que nos isolou do mundo, que nos olhava de soslaio, desconfiado, e de que Salazar tinha pavor. Por isso, quis incutir-nos que o melhor era ficarmos “orgulhosamente sós”, porque, na nossa “grandeza”, não precisávamos de ninguém. Estes branqueamentos de comportamentos criminosos não podem ficar sem resposta. Há que denunciá-los sempre sem contemplações, porque mais não são do que a entrada em cena, com pezinhos de lã, de ideologias contra a liberdade. Silenciá-los, isso não, porque seria o que eles, com o poder, fizeram aos democratas. E nós não podemos ser iguais. Expresso - 28.09.2019

4 comentários:

  1. O José vai desculpar-me se me achar "chatinho", mas confesso que, percebendo e estando de acordo com o que diz... fiquei sem saber se considera um "silenciamento" o estar contra o "Museu Salazar". Como sabe , eu estou, mas isso "não conta para totobola" a não ser como opinião pessoal.

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    1. Não é nada “chatinho”, mas o “ponto” do meu post não era esse. Era, sim, o aproveitamento do “episódio museu” que alguma direita, talvez envergonhada, fez, para ir entrando com os tais pozinhos branqueadores que enganam muitos. Quanto ao seu “ponto”, em sinceridade lhe digo que compreendo a maior parte dos argumentos a favor e contra. Mas se o meu voto fosse determinante, não hesitaria em rejeitar o museu, face aos perigos que daí poderiam advir. Tornamos à “velha” questão do ovo da serpente…

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