domingo, 29 de setembro de 2019


”Calaçaria militante”...


Quando era miúdo havia aqui três irmãos já velhotes, solteirões, que viviam juntos na casa herdada dos pais; dois homens e uma mulher, mais nova, que se ocupava da casa, dos animais pequenos e cozinhava para todos; o mais velho, muito pitosga, pouco fazia, ficando para o do meio todo o trabalho da lavoura e cuidar do gado grande.

Como pouca ajuda podiam ter da comunidade, porque eram um bocado avarentos e também não podiam ajudar a vizinhança, o escravo da casa, apesar de não lhe sobrar tempo nem para se coçar, tinha sempre as culturas atrasadas e mal amanhadas; perante a evidência e os comentários, a mulher desabafava que não podia, Chico não via e só Zé é que fazia alguma coisa, mas ele era um calaceiro; o “desinfeliz”, a quem era exigido que desse conta de toda a lavoura da casa, como agradecimento ainda levava uma roda de calaceiro!

Coisa diferente parece ser o que se passa com um juíz desembargador da Relação de Coimbra, que processou um advogado por este lhe chamar calaceiro em letra de forma, qualificativo que parece ajustar-se mesmo ao comportamento do magistrado; de facto, pelo que se lê no JN, o desembargador teve o desplante de declarar por escrito ter tomado uma decisão que implicou a prisão preventiva de um arguido sem ter lido sequer a documentação que lhe estava apensa, pelo que o advogado, agora na qualidade de réu, reafirmou que não tirava uma vírgula ao requerimento em que acusava o magistrado de “calaçaria militante”...


Amândio G. Martins

Sem comentários:

Enviar um comentário

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.