quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Depois, logo se vê


Sempre compreendi os desejos dos brexiteers. A conduta de Bruxelas é, muitas vezes, irritante e intrusiva, mesmo sem haver manifestações de abandono da UE, coisa que, aliás, é um pressuposto da entrada. Mas só teoricamente, como se viu com o comportamento da União nas negociações com Londres. Compreendo menos, ou nada, a atitude de avestruz conduzida por alguns dirigentes e responsáveis (?) britânicos, entre eles o actual primeiro-ministro. As coisas são como são, e actuar só como nós achamos que deveriam ser não é de gente com dois palmos de testa ou de bom-senso. Devem já ter-se feito milhões de estudos sobre as possíveis consequências do Brexit, para quem sai e para quem fica, e não me parece que alguém tenha certezas irrefutáveis sobre essas conclusões. Pois Boris Johnson, qual menino casmurro, em perseguição de uma ideia que mete medo a muita gente, persiste no “erro”, pensando que vai fazer vingar a sua teoria. Não há-de ser nada, pode ser que tudo corra bem.

4 comentários:

  1. Pois eu não compreendo os brexiteers. Ou melhor, não tenho que os compreender pois eles falam sobre o país deles e eu vejo a Inglaterra (é mesmo Inglaterra que quero dizer), tal como o Miguel Esteves Cardoso explicou no PÚBLICO de ontem...) como um todo que quer estar sempre com um pé dentro e outro fora desde que retire a melhor parte, não se importando mesmo de ignorar a Escócia e, especialmente, a Irlanda toda, mesmo que vá reactivar uma guerra sangrenta. "Unido" o Reino? Quanto à personagem Boris, com todos os "artefactos" que incorporam as suas personalidade e carácter, bom, personifica essa "bipolaridade ambivalente" que personifica o país, agora em hipérbole grotesca. Quanto à Europa, lutando pela sua melhoria, defendo-a pois defendo sempre o que une e não o que desune, como o querem fazer que desejam entrar para retirar "miolo" sem largar o seu pedaço, ou os que julgam sair mas mandar nela de fora (Inglaterra) ou ainda os que puramente sonham com o seu desmembramento, talvez para vingarem a sua própria implosão.

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    1. Até estarei de acordo com o Fernando (e com o MEC) em muito do que diz(em). No entanto, para mim, há um princípio básico: o da vontade nacional, ainda por cima respaldada no nº 1 do artº 50º do Tratado da União Europeia. Ora, a vontade expressa pelos ingleses (repare que não escrevi britânicos, mas, ainda assim, a maioria) foi a da saída, exercendo um direito inalienável. Como ninguém “avisou” ninguém de que a saída, na prática, poderia tornar-se impraticável, mais se parecendo a atitudes punitivas do género “não gostas de mim, vais pagá-las”, registo o facto como muito feio para Bruxelas. Quanto à “união”, em vez da desunião, essas coisas valem o que valem, dependendo muito dos contextos e de outras coisas: não se esqueça da União Soviética.
      Falando da personalidade e do carácter de Boris e dos seus compatriotas, estamos conversados: nada a acrescentar.

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    2. O José, na minha interpretação, acaba por me dar razão. Dito duma forma algo "primária", a Inglaterra que não fale em nome do Reino Unido pois sabemos bem o que pensa a Escócia sobre o Brexit e supeitamos do que pensa a Irlanda do Norte. E também sabemos bem o que pensa a República da Irlanda (RI). E quanto à União Europeia (UE), não vejo onde está o "não gostas de mim, vais pagá-las", sinceramente. O que a UE faz é dizer: se queres sair "pagas o que deves" e não fazes da RI um país que "fosse teu". E tens que saber que a continuidade geográfica das "Irlandas" é um facto, ou não saberás? Quanto à União Soviética, não serve como comparação pois lá "queriam sair" e na UE querem entrar... aliás muitos deles os mesmos...

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    3. Provavelmente, não fui muito claro na exposição das minhas ideias.
      Lamento muito que o Reino Unido pretenda sair da UE, até porque esta (nós todos) tem muito a perder, uma vez que os prejuízos não serão só do âmbito estritamente comercial. O que acontece é que “eles” querem (ou quiseram) sair e, para isso, estão a invocar um direito que é inegavelmente legítimo. Que, para isso, vão ter de pagar, é, digamos assim, do domínio público. O problema estará, talvez, no “quanto”.
      Ora, aqui é que entra o “oportunismo”, em meu entender, de Bruxelas. Por um lado, ao puxar demasiadamente a brasa para a sua sardinha, por outro, porque parece-me ser do consenso geral que o Brexit se tornou uma oportunidade de ouro para o “núcleo duro” da UE demonstrar aos demais que isso da “saída” tem muito que se lhe diga. (Poderá ser que o Fernando não concorde com isto, mas, sinceramente, é o que eu penso, e, de resto, estou farto de ver por aí espelhado em múltiplas análises). Esse “núcleo” teve sempre todo o interesse em impedir que uma saída da UE pudesse saldar-se por um êxito, já que poderia tornar-se um “mau exemplo”.
      Não me estou a esquecer da Irlanda, nem da Escócia, nem sequer de Gales. Mais uma vez, os ingleses demonstram que, se não podem ser imperialistas a nível planetário, não perderam ainda o jeito, exercendo-o em parcelas mais à mão.
      Já no que toca ao exemplo que dei com a União Soviética, se o invoquei foi exactamente para lembrar que havia quem pudesse querer sair, mas não podia, não os deixavam. Ora, aqui na UE, parece que alguns em Bruxelas, se pudessem, proibiam também a saída dos outros, o que, para mim, é inadmissível. A União tem de ser constituída por quem queira, efectivamente, fazer parte dela.

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